E o jovem José levantou-se… e partiu! Enamorado pela sua jovem esposa e fiel à sua missão, o sonho que o casal teria sobre a construção de uma vida familiar como tantas outras famílias do seu tempo, uma família discreta, fiel, simples e feliz ao jeito de ambos, levou alguns acertos. O facto de um e outro se terem associado à aventura de Deus na história dos homens fê-los percorrer outros caminhos que não os que tinham planeado. José, “levanta-te, toma o Menino e sua Mãe e foge para o Egito!…Herodes vai procurar o Menino para o matar!… José levantou-se de noite, tomou o Menino e sua Mãe e partiu para o Egito” (Mt 2,13-14).

Nestes tempos em que tantos jovens veem os seus planos desfeitos ou não realizáveis pelos condicionalismos em que vivemos, nestes tempos em que tantos procuram construir a sua vida ao som de modas, sempre frágeis e transitórias, José pode ser exemplo e estímulo para quem busca sentido para a vida! Se na vida é importante não esquecer Jesus e Maria, também é necessário fugir dos perigos, nem que seja de burriquito, é mais ecológico embora mais gravoso para o solípede!…

Nesta seriedade e confiança, nem sempre o que nos parece mais fácil, mais agradável e melhor, nem sempre aquilo que sonhamos ter e ser será o caminho a trilhar. As tomadas de decisão rápidas, sem reflexão e discernimento, contando apenas com uma momentânea, pessoal e entusiasmada ‘clarividência’, podem acabar por frustrar e deixar um vazio interior a influenciar negativamente a vida pessoal, familiar e social. Abraçar todas as modas como se todas fossem do melhor e mais barato, adotá-las como se fosse uma exigência da liberdade, pode enganar, pode ter efeitos contraproducentes, pode fazer olhar muitas vezes ao espelho e correr em vão. Sendo transitórias, modas há que, se se tornam centro de todos os interesses e motivações de alguém, podem, enquanto duram, gerar uma certa miopia e escravizar, logo deixando o vazio e a necessidade de saltar para outra, gerando inconstância….

Hoje vivemos um tempo de modas. Algumas, porém, não vestem bem. Não me refiro às novidades que o pensamento, a cultura, a ciência, a arte e o progresso nos trazem que são sempre desejáveis e de aplaudir. Refiro-me a modas ideológicas e outras que tais. Com a pretensão de tudo construir a partir do zero, ambiciona-se esquecer o passado e os seus valores civilizacionais. É uma espécie de doença de Alzheimer provocada. Deseja-se privilegiar e forçar a perda voluntária da memória e o esforço sofrido de tantos e tantos de que a História nos dá conta. É fácil, é mesmo muito fácil destruir, sobretudo quando pessoas influentes se endeusam, pensam e agem como se até o próprio Deus tivesse de lhes pedir desculpa pelo facto de existir!…

Quando tais pigmeus se colocam assim em bicos de pés, quando acendem o candelabro da sua importância na intenção de provocar luz e luz em abundância para darem nas vistas, o quadro da luz dispara, vai abaixo, os fusíveis não aguentam, as trevas saltam arrogantes, Babel reaparece porque as antenas humanas deixam de captar as ondas de Deus.

Nestes tempos belos que são os nossos, se é preciso que todos tenhamos olho fino e pé ligeiro para discernir e optar por aquilo que de melhor a vida nos oferece, o Papa Francisco não deixa de fazer um apelo muito particular aos jovens de todo o mundo para que se levantem e venham testemunhar aquilo em que acreditam, com alegria e esperança, com convicção e firmeza, com Jesus e Maria, e a exemplo de José.

José, no silêncio de si mesmo e perante as dificuldades e os condicionalismos da sua situação concreta, não bateu o pé, não encaprichou, não desistiu, não orientou a sua vida pensando apenas em si. Confiou, arriscou, mas não arriscou como lhe deu na gana, como fruto de impulsos momentâneos ou confiando apenas nas suas próprias forças. Colocou-se à escuta de Deus e partilhou com Maria as dificuldades a vencer, sabendo que Jesus estava presente. Tal atitude rasgou-lhe horizontes de vida, fê-lo ser fiel a Deus, à família e ao trabalho, fê-lo dar razões da sua esperança, quer quando teve de emigrar para o Egito, quer quando viveu nas periferias geográficas de Belém e Nazaré, quer mesmo trabalhando como humilde carpinteiro entre alegrias e dificuldades. No seio desta família das periferias nasceu e viveu Jesus. A sua pessoa, porém, influenciou e beneficiou toda a Humanidade e toda a História, apaixonou pessoas e povos, transformou e construiu uma nova civilização com valores éticos e morais jamais apontados, manifestou-se como o princípio e o fim, o alfa e o ómega, o Filho de Deus, o Salvador, o Caminho, a Verdade e a Vida. Obedecendo ao seu mandato, os seus discípulos, sobretudo os jovens, foram e continuam a ir de terra em terra a anunciar o seu reino de justiça, de verdade, de amor e de paz. Muitos outros o fariam se d’Ele tivessem ouvido falar, o encontrassem e conhecessem. São Francisco Xavier, aquele que partiu para o oriente e que hoje celebramos, impressionado com aquelas periferias e desgostado por não lhes conseguir transmitir tudo quanto elas desejavam saber, chegou a exclamar: “Muitas vezes me vem ao pensamento ir aos colégios da Europa, levantando a voz como homem que perdeu o juízo e, principalmente, à Universidade de Paris, falando na Sorbona aos que têm mais letras que vontade para se disporem a fortificar com elas”, e a se conformarem mais com a vontade de Deus do que com as suas próprias inclinações.

No dia 8 de dezembro, Dia da Imaculada Conceição, Padroeira de Portugal, às quinze horas, na igreja matriz da paróquia de São José Operário, na cidade de Castelo Branco, encerramos este Ano dedicado a São José pelo Papa Francisco.

Antonino Dias

Portalegre-Castelo Branco, 03-12-2021.

 

 

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