A ampulheta do tempo para a Jornada Mundial da Juventude vai-se esvaziando muito mais rápido que aquelas que, pelo menos outrora, as instituições de ensino usavam nos exames orais, lembram-se?!… Bene dixisti!, dizia um dos jurados com olhos ensonados e sem ter ouvido nada…

Se agora não são os professores a causarem nervoso miudinho e a fazer com que os jovens apanhem a raposa, é a pandemia que faz os seus estragos. Os jovens do mundo inteiro viram adiado esse encontro mundial em Lisboa de 2022 para 2023. E mesmo agora ainda pairam algumas incertezas no entusiasmo crescente duma juventude jovem. Sim, e digo juventude jovem porque há por aí jovens muito envelhecidos, deixaram de sonhar sendo o sonho que comanda a vida! Mas tudo vai estando a postos, em movimento, com sensibilização e caminhada de preparação, com alegria e esperança. O Comité Organizador Local, de Lisboa, organiza e coordena a Jornada Mundial a nível nacional e internacional, com centenas de voluntários nacionais e estrangeiros. Cada Diocese tem o seu Comité Organizador Diocesano para sensibilizar, preparar e coordenar a caminhada a fazer. As obras para a logística, em Lisboa, já fazem o seu caminho sob a responsabilidade dos autarcas de Lisboa e de Loures. O trabalho pastoral entre os jovens do país já começou em cada Diocese. O desafio do Papa Francisco aquando da entrega dos símbolos a Portugal foi claro: “Queridos jovens, gritai com a vossa vida que Cristo vive, que Cristo reina, que Cristo é o Senhor! Se vos calardes, garanto-vos que gritarão as pedras!” (cf. Lc19,40).

O símbolo mais emblemático que, desde o princípio, tem acompanhado as Jornadas Mundiais da Juventude é a Cruz, também conhecida por Cruz dos Jovens, Cruz Peregrina, Cruz do Ano Santo, Cruz do Jubileu, Cruz das Jornadas. Posteriormente falarei do outro símbolo que é o ícone da Virgem Maria “Salus Populi Romani”, bem como falarei do logótipo e do Hino da Jornada em Lisboa. Se esta Cruz já carrega consigo uma rica história de evangelização, ela também torna presente a saudade do promotor de tais Jornadas Mundiais, São João Paulo II. No Ano Santo da Redenção em que se celebravam mil novecentos e cinquenta anos da Ressurreição de Jesus, ano que decorreu de 1983 a 1984, João Paulo II pediu a presença de uma grande Cruz próxima do altar principal da Basílica de São Pedro. Uma Cruz que, mesmo ao longe, pudesse ser vista por todos. E eis que lá foi colocada uma Cruz com 3,8 metros de altura, 175 cm na largura dos braços e com 31 kg de peso.

Após o encerramento da Porta Santa, em 1984, no Domingo de Ramos, ele confiou essa Cruz aos jovens de todo o mundo, ali representados pelos jovens do Centro Juvenil de São Lourenço, com sede ao lado da Praça de São Pedro, em Roma, dizendo: “Meus queridos jovens, ao concluir este Ano Santo, eu confio-vos o símbolo deste Ano Jubilar: a Cruz de Cristo! Carreguem-na pelo mundo fora como um símbolo do amor de Cristo pela humanidade, e anunciai a todos que só na morte e ressurreição de Cristo é que poderemos encontrar salvação e redenção”. Os jovens levaram a Cruz para o Centro Juvenil de São Lourenço, continuando a ser o lugar permanente da Cruz quando não está em peregrinação pelo mundo. De quando em vez e com o mesmo entusiasmo, São João Paulo II lembrava aos jovens a Cruz e a missão que lhes confiara nessa altura. E, de facto, carregada por mãos e corações generosos de jovens entusiastas, a Cruz tem realizado uma longa e ininterrupta peregrinação pelos continentes, para assim demonstrar que a Cruz caminha com os jovens e os jovens caminham com a Cruz. Ao longo destes anos, tem passado por muitíssimas partes do mundo, incluindo lugares muito sensíveis e problemáticos, devido às suas circunstâncias de guerra ou de outras causas de sofrimento e dor. A Cruz apresenta-se aí como sinal de fé, de esperança e comunhão. Transportada por terra, mar e ar, por jovens a pé ou pelos mais diferentes meios de transporte, tem passado por igrejas, comunidades cristãs, lugares públicos, centros de detenção juvenis, prisões, escolas, universidades, hospitais, monumentos, centros comerciais, por tudo quanto é sítio e se consegue levar como sinal evangelizador e de paz, interpelando e acompanhando os jovens e as comunidades nas suas mais diversas realidades, conforme o tempo e o espaço. Desde novembro de 2021 a Julho de 2023, a Cruz está entre nós a percorrer as dioceses portuguesas, ficando um mês em cada uma. Pelo meio, fará uma pausa, para estar na Peregrinação Europeia de Jovens, em Santiago de Compostela, nos dias 4 e 7 de agosto 2022.

A passagem desta Cruz pelas nossas dioceses significa também um caloroso convite dos jovens a todos os jovens e pessoas de boa vontade para que se unam em verdadeira comunhão nesta causa de viver e dar a conhecer o amor de Cristo por toda a humanidade. Quando falamos sobre a importância da Cruz, não falamos sobre o objeto em si, mas sobre o que nela aconteceu, tornando-se a escada e a porta por onde se sobe e entra no Paraíso. “Como é estreita a porta e apertado o caminho que leva à vida” (Mt 7, 14). E Santa Rosa de Lima dizia que “fora da cruz, não há outra escada por onde se suba ao céu”. Ela representa o amor de Jesus por nós, o preço que pagou para nos salvar. “Ele, que era de condição divina, não se valeu da sua igualdade com Deus, mas aniquilou-Se a Si próprio. Assumindo a condição de servo, tornou-se semelhante aos homens. Aparecendo como homem, humilhou-Se ainda mais, obedecendo até à morte, e morte de cruz” (cf. Fil 2, 1-11). A Cruz é a síntese de tudo quanto Jesus sofreu por nós, mesmo que continue a ser escândalo para uns e loucura para outros. O que o mundo considera vil e desprezível, aquilo que há de mais frágil e louco aos olhos do mundo, o que é tido como loucura e fraqueza de Deus, é o que Deus escolheu para confundir os sábios e os fortes e destruir tudo quanto, neste mundo, se pensa que é muito mais importante do que isso, sem prejuízo de dar importância às coisas da vida, boas ou menos boas. Quem se gloria, que se glorie no Senhor. Deus exaltou Jesus e deu-lhe “um nome que está acima de todos os nomes, para que ao nome de Jesus todos se ajoelhem, no céu, na terra e nos abismos, e toda a língua proclame que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai” (cf.1Cor, 19-31). Na Cruz está a plenitude da nossa salvação, por ela regressamos à dignidade original. E Jesus desafiou-nos: “se alguém quiser segui-Me, renuncie a si mesmo, pegue na sua cruz de cada dia e siga-Me” (Lc 9,23).

A Cruz da Jornada Mundial da Juventude e o ícone da Virgem Maria “Salus Populi Romani” são entregues à nossa Diocese, em Évora, no dia 30 de janeiro corrente. Chegam a Portalegre nesse mesmo dia à noite, mesmo sendo a noite que alimenta muitas esperanças eleitorais. Durante o mês de fevereiro, percorrerão a Diocese por lugares já determinados pelo Comité Organizador Diocesano, lugares mais acessíveis ao povo de Deus. A Diocese da Guarda vem recebê-los em 5 de março, em Castelo Branco, com concentração jovem e celebração a condizer. A todos os jovens e adultos com espírito jovem, o Senhor lhes diz pela boca da juventude jovem da nossa Diocese: se queres vir, ver, rezar e animar, pega na tua cruz e vem, é uma oportunidade única de, num desses lugares por onde vão passar, estares junto destes símbolos mundiais tão amados pelo que significam e interpelam …

Antonino Dias

Portalegre-Castelo Branco, 07-01-2022.

 

 

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