Os jovens são assim, são a paz em movimento mesmo que agitada. E mal vai quando assim não é, quando se recusam a tirar as pantufas e a saltar do sofá, carentes que estão da vontade de conviver e agir, com alegria e proveito! Os que são jovens, os jovens sem essa morrinha de velhice velha, gostam de aventuras sadias, espreitam oportunidades, confiam, esperam, sabem-se encontrar e ser encontrados. Sentindo-se no mesmo barco, dão as mãos para içar, ajustar e orientar as velas para navegar segundo um imaginário sadio. Amarram e desamarram as espias do barco ao cabeço de amarração, ora para lhes dar firmeza em porto seguro, ora para lhes dar a liberdade de navegar no mar alto da vida. Sabem usar a âncora para que o barco não ande ao sabor dos ventos tempestuosos ou adversos, perdendo o rumo, o tino e o destino.
Entre 30 e 40 jovens diocesanos, alguns que foram em peregrinação a Roma, estão em missão na zona da Sertã, com o quartel-general em Cernache do Bonjardim. Como já o foi no ano passado, esta missão é feita em parceria com o “Voluntariado Internacional de Educação à Solidariedade” (Associação VIDES), um projeto europeu que reclama alguns procedimentos. Parabéns a eles, a elas, a seus pais, às paróquias da sua origem e a quem promove, coordena, apoia e abre as portas a esta Missão Jovem 2025! Parabéns e obrigado pelo testemunho de todos!
Sabemos que cada um dos participantes é cada qual. Todos iguais em dignidade mas todos diferentes na forma de ser e estar. Ninguém é ou pode ser em vez do outro, cada um é o original e não deve aspirar a ser fotocópia de alguém, como afirmava Carlo Acutis. Somos criados à imagem e semelhança de Deus e Deus é um só, é único, cada um de nós é único e senhor do seu nariz e das suas orelhas. Mas também somos seres de relação, seres sociais. Fomos criados à imagem e semelhança de Deus e Deus é relação, é comunidade, é família, é uma realidade dialógica. Nascemos filhos de uma relação e crescemos em relação com os outros, numa cultura que nos faz compreender a nós mesmos e nos ajuda a interpretar o mundo e a fazer escolhas pautados por valores e verdade: isso foi lembrado pelo Papa no Jubileu dos jovens, como resposta às perguntas de Dulce, mexicana, de Gaia, italiana, e de Will, dos Estados Unidos. E neste processo, cruzamos com pessoas e instituições que nos ajudam a formar a nossa consciência, fazem parte da nossa vida, são bondosas connosco, ouvem-nos com amor e até ao fim, ajudam-nos a crescer na bondade e na verdade, ensinam-nos a viver e a conviver saudavelmente, trocando conhecimentos, partilhando expectativas, dialogando através da arte, da fé, da música, do lazer, da informática, da cultura, do desporto, de iniciativas saudáveis, do que for.
Embora sejam excelentes no campo da informação e do saber, do encontro e do diálogo, do intercâmbio e da proximidade, não podemos aceitar que sejam as redes sociais a formatar a nossa maneira de estar. Não podemos permitir que nos façam adormecer ou nos tornem dependentes, confusos, instáveis, como afirmava o Papa Francisco. Não são elas que nos devem dizer o que devemos ser, ver, pensar e agir, tampouco são elas quem nos deve dizer quais devem ser os nossos amigos. Conforme se ouviu na Vigília do Jubileu dos jovens, em 2 de agosto, qualquer pessoa deseja uma vida com sentido, mas nem sempre é fácil de encontrar, como fácil não é encontrar uma amizade autêntica que nos apoie a desbravar o caminho, para que, com aquela esperança que não engana, sejamos capazes de descolar e voar em direção à verdade que não dececiona, à beleza que não passa. Quando as nossas amizades refletem um intenso vínculo com Jesus – o Amigo por excelência e que nunca falha! -, tornam-se certamente amizades sinceras, generosas e verdadeiras, ajudando-nos a viver o presente construindo o futuro. A este propósito, Leão XIV recordou aos jovens as palavras sempre atuais e atuantes que São João Paulo II havia dito, naquele mesmo lugar, há 25 anos, em 2000, aos jovens de então, os quais são os pais de hoje, alguns já avós: “é Jesus quem buscais quando sonhais a felicidade; é Ele quem vos espera, quando nada do que encontrais vos satisfaz; Ele é a beleza que tanto vos atrai; é Ele quem vos provoca com aquela sede de radicalidade que não vos deixa ceder a compromissos; é Ele quem vos impele a depor as máscaras que tornam a vida falsa; é Ele quem vos lê no coração as decisões mais verdadeiras que outros quereriam sufocar”.
Por entre sonhos, esperanças, atração pelo bem e pelo belo e por entre dúvidas, incertezas e um certo medo do futuro, o jovem sente necessidade de fazer escolhas. Entende que não pode adiar nem ficar paralisado. Tem de decidir, mesmo que isso o faça sofrer. E também sabe que escolher ‘isto’ significa renunciar ‘àquilo’, mesmo que ‘aquilo’ também seja bom e agradável. E se é certo que ninguém pode ficar como ‘o tolo no meio da ponte’, tolhido com medo de discernir, decidir e arriscar, também é verdade que não deve optar por ficar com um pé dentro e outro fora, com um pé a caminhar pelo passeio e outro pela rua, a manquejar. Ficar dividido, optando por um bocadinho ‘disto’ e outro bocadinho ‘daquilo’, recusando dar-se totalmente ao que lhe dará verdadeiro sentido à vida, não é bom, mais tarde ou mais cedo chegará a frustração. Há escolhas que não admitem ambiguidades destas, são estruturantes da vida, reclamam exclusividade e dedicação total. E será na fidelidade a essas primeiras escolhas e para a sua melhor concretização, que se farão muitas outras escolhas ao longo da vida, seja essa primeira escolha o matrimónio, o ministério ordenado, a vida consagrada ou mesmo outra opção responsável de dedicação aos outros, se se entende que não se tem vocação para o matrimónio, para o ministério ordenado ou para a vida consagrada. Só a plena doação a essa primeira escolha sonhada, refletida, rezada, discernida e assumida com alegria, mesmo que vivida no meio de algumas tristezas e fracassos, é que gera a felicidade e a capacidade de tudo enfrentar para chegar à meta. Isso é construir sobre a rocha, sobre aquele amor que renova todas as coisas, que “não nos tira nenhum bem mas nos leva sempre ao melhor”. Esta é a esperança que não engana e nos leva a ter coragem de fazer escolhas radicais e com sentido, enriquecendo-as com tudo o mais que a vida nos oferece de bom e de que sejamos capazes de usufruir e desenvolver.
Se a escolha por excelência é a decisão sobre a própria vida, termino com a pergunta do Papa Leão XIV dirigida a cada jovem que se preze de o ser e onde quer que se encontre, mesmo que seja na Sertã ou em qualquer cantinho desta nossa Diocese: “que homem queres ser? Que mulher queres ser?”.
Antonino Dias
Portalegre-Castelo Branco, 22-08-2025.