Com a guerra Franco-Prussiana e as pelejas pela unificação da Itália, o Concílio Ecuménico Vaticano I teve de encerrar portas. Durou apenas um ano, de dezembro de 1869 a dezembro de 1870. Eram tempos conturbados e a Igreja precisava de respostas colegiais, debatidas em ambiente sinodal. Para além do prato forte sobre a mesa dos debates, os Padres conciliares ainda apresentaram duas propostas relacionadas com São José. Numa dessas propostas, pediam que ele tivesse um culto mais valorizado na Liturgia. Noutra, que fosse proclamado Padroeiro da Igreja Universal. Pio IX, que convocara o Concílio e já, em 1854, indicara São José como, depois de Maria, a esperança mais segura da Igreja, acolhe de bom grado as duas propostas. Por Decreto de 8 de dezembro de 1870, Dia da Imaculada Conceição, declara São José Padroeiro da Igreja Católica e valoriza a festa de 19 de março, que já fazia parte do calendário litúrgico romano desde finais do século XV. Sem falar nos anteriores, os onze Papas que, até hoje, sucederam a Pio IX, jamais deixaram de enriquecer e promover o culto a São José. No entanto, ao longo da história, nunca houve um Papa que adotasse o nome de José.

Leão XIII dedicou-lhe uma Carta Encíclica em que exalta as suas virtudes, apresenta-o como exemplo a toda a Igreja, insiste em que se lhe consagre o mês de março e convida os fiéis à sua devoção, inclusive pedindo que se rezasse também durante o mês do Rosário, em outubro, uma oração que ele propôs. 

São Pio X acrescentou outras formas de devoção, inclusive a recitação das ladainhas em honra de S. José. Bento XV continuou a promover o culto a S. José, introduziu dois novos prefácios no cânone da missa e, por moto próprio de 25 de julho de 1920, no cinquentenário da proclamação de S. José como Patrono da Igreja, também lhe consagrou uma Carta Encíclica. E pede a todos que implorem com maior empenho o auxílio de São José, reforça a devoção de todas as quartas-feiras do ano e do mês de março, bem como pede que se tenha como eficaz protetor dos agonizantes e moribundos, no sofrimento e na morte. 

Pio XI, muitas vezes realçou as virtudes de S. José, sobretudo nos dias 19 de março, seguindo na mesma linha de devoção ao Santo Patriarca. O Papa seguinte, Pio XII, divulgou orações em sua honra, e, para salientar o poder de intercessão de S. José, apresentou-o como «Padroeiro dos operários», instituiu uma segunda festa, a Festa de S. José Operário, que se celebra no Dia Internacional do Trabalhador, primeiro dia de maio, ficando a festa de 19 de março como a mais solene.

São João XXIII, em 19 de março de 1961, confia o Concílio Vaticano II à proteção de São José e pede aos fiéis que participem por meio de oração mais viva, ardente e contínua, nessa confiança em S. José e em Nossa Senhora, sua Esposa. Durante o Concílio, introduziu o nome de São José no antigo Cânone Romano. 

São Paulo VI, pelo facto de a Igreja estar “sujeita a tantas atribulações, ameaças, suspeitas e contestações”, exortava a que a Igreja permanecesse “fiel à escola de Nazaré, pobre e laboriosa, mas viva, sempre consciente e forte, para poder realizar a sua vocação messiânica”. E confiava a Igreja à proteção de São José para que “este humilde e grande Santo” continuasse a missão que exerceu no quadro histórico da Encarnação. São João Paulo II falou de São José em muitíssimas ocasiões, afirmou que lhe rezava todos os dias, e dedicou-lhe uma Exortação Apostólica realçando a missão de São José na vida de Cristo e da Igreja. Bento XVI várias vezes enalteceu São José pela “riqueza de uma vida completa, de um homem fundamental que, com o seu exemplo, sem proclamações, marcou o crescimento de Jesus o homem-Deus”, um homem do silêncio, “marcado pela oração constante” e pela sua confiança sem reservas à providência. 

Francisco constata e afirma que “depois de Maria, nenhum santo ocupa tanto espaço no magistério pontifício como São José”. Ele próprio, a fim de perpetuar a confiança de toda a Igreja em São José e ao celebrarmos os cento e cinquenta anos da sua proclamação como Padroeiro da Igreja Universal, estabeleceu que, a partir do dia 8 de dezembro passado e a terminar em 8 de dezembro de 2021, seja celebrado um especial Ano de São José, em que todos os fiéis, seguindo o seu exemplo, possam reforçar a sua vida de fé. A esse propósito, com data de 8 de dezembro passado, Francisco publicou uma Carta Apostólica a que deu o título de “Com Coração de Pai”. Nessa Carta, são lembrados os traços da vida de São José transmitidos pelos Evangelhos. Francisco afirma “falar da abundância do coração” para partilhar connosco “algumas reflexões pessoais sobre esta figura extraordinária, tão próxima da condição humana de cada um de nós”. Um homem que apesar de ter uma presença quotidiana discreta e despercebida, tem um protagonismo sem paralelo na história da salvação. E o Papa tem presente o facto de, ao longo destes tempos de crise pandêmica, todos poderem “encontrar em São José – o homem que passa despercebido, o homem da presença quotidiana discreta e escondida – um intercessor, um amparo e um guia nos momentos de dificuldade”. Dirigindo uma palavra de gratidão pelos seus serviços de tantos, Francisco lembra que «as nossas vidas são tecidas e sustentadas por pessoas comuns (habitualmente esquecidas), que não aparecem nas manchetes dos jornais e revistas, nem nas grandes passarelas do último espetáculo, mas que hoje estão, sem dúvida, a escrever os acontecimentos decisivos da nossa história: médicos, enfermeiras e enfermeiros, trabalhadores dos supermercados, pessoal da limpeza, curadores, transportadores, forças policiais, voluntários, sacerdotes, religiosas e muitos – mas muitos – outros que compreenderam que ninguém se salva sozinho. (…) Quantas pessoas dia a dia exercitam a paciência e infundem esperança, tendo a peito não semear pânico, mas corresponsabilidade! Quantos pais, mães, avôs e avós, professores mostram às nossas crianças, com pequenos gestos do dia a dia, como enfrentar e atravessar uma crise, readaptando hábitos, levantando o olhar e estimulando a oração! Quantas pessoas rezam, se imolam e intercedem pelo bem de todos».

São José “foi sempre amado pelo povo cristão, como prova o facto de lhe terem sido dedicadas numerosas igrejas por todo o mundo; de muitos institutos religiosos, confrarias e grupos eclesiais se terem inspirado na sua espiritualidade e adotado o seu nome; e de, há séculos, se realizarem em sua honra várias representações sacras. Muitos Santos e Santas foram seus devotos apaixonados”. 

Seria interessante que as pessoas que têm o nome de José ajudassem a promover a sua devoção, tomassem iniciativas neste ano a ele dedicado, formassem grupos de reflexão, e, em vez de os pais darem aos filhos nomes que nem os avós os sabem pronunciar, honrassem São José, dando-lhes o seu nome e colocando-os sobre a sua proteção.

 

Antonino Dias

Portalegre-Castelo Branco, 05-02-2021.

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