Teresa de Lisieux nasceu a 2 de janeiro de 1873 em Alençom, França. Era filha de Luís Martin e de Zélia Guérin, canonizados pelo Papa Francisco em 18 de outubro de 2015, em pleno Sínodo dos Bispos sobre a Família, no Dia Mundial das Missões. Foi a primeira vez que, na história da Igreja, se canonizou marido e esposa na mesma celebração. Tive o privilégio de lá estar e participar. Teresinha, sempre franzina de saúde, estudou no colégio da Abadia das monjas beneditinas. Aos 14 anos, queria entrar na ordem das carmelitas descalças. As normas da Igreja, porém, não lho permitiam. Numa viagem a Roma, ousou pedir ao Papa que a dispensasse desse impedimento. Assim, em abril de 1888, entrou para o Carmelo com o nome de Teresa do Menino Jesus. Fez a profissão religiosa em setembro de 1890, festa da Natividade de Nossa Senhora, tomando o nome de Teresa do Menino Jesus e da Santa Face. 

Grande devota do Menino Jesus, dedicou-lhe escritos, poesias, pinturas, orações, adotou-lhe o nome. A pedido de sua irmã Paulina, escreveu três manuscritos, uma espécie de autobiografia, tendo sido publicados sob o título “História de uma Alma”. E mesmo que Karl Rhaner tivesse dito que muitos aspetos da personalidade e dos escritos desta santa lhe parecessem “irritantes e simplesmente aborrecidos!” este livro foi um dos maiores “best sellers” da história. Apontava o “pequeno caminho” para a santidade, através dos pequeninos atos e gestos de cada dia, feitos com amor. Até o “pegar um alfinete caído no chão, com amor, produz fruto de santidade”, dizia ela. Era um estilo de estar e fazer que passava despercebido. Tanto assim que, aquando do processo da sua beatificação, algumas das Irmãs que tinham convivido com ela no convento e foram convidadas a testemunhar, afirmaram que ela não tinha nada que valesse a pena contar, nada de relevante, nada digno de registo. De facto, ninguém é grande para os mais próximos, ninguém é profeta em sua terra, disse Cristo. Tantos santos que ninguém topa!… santos de “ao pé da porta” como refere o Papa Francisco, santos de dentro de casa, jovens e adultos, doentes ou descartados, na família e na profissão, nos deveres da cidadania terrena e já da nova terra e dos novos céus!…

A caridade foi quem ofereceu a Teresinha a chave da sua vocação. É ela quem o afirma: “compreendi que só o amor fazia atuar os membros da Igreja e que, se o amor viesse a extinguir-se, nem os apóstolos continuariam a anunciar o Evangelho, nem os mártires a derramar o seu sangue; compreendi que o amor encerra em si todas as Vocações, que o Amor é tudo e que abrange todos os tempos e lugares, numa palavra, que o amor é eterno … a minha vocação é o amor … com o amor serei tudo; assim será realizado o meu sonho”.

E tinha consciência das suas limitações: “sempre verifiquei, ao comparar-me com os Santos, que há entre eles e eu a mesma diferença que existe entre uma montanha, cujo cume se perde nos céus, e o obscuro grão de areia  pisado pelos pés dos caminhantes. Em vez de desanimar, disse para comigo: Deus não pode inspirar desejos irrealizáveis. Posso, portanto, apesar da minha pequenez, aspirar à santidade. Fazer-me crescer a mim mesma é impossível; tenho de suportar-me tal como sou, com todas as minhas imperfeições. Mas quero procurar a maneira de ir para o Céu por um caminhito muito direito, muito curto; um caminhito completamente novo”. 

E referia com humor:  “Estamos num século de invenções. Agora já não se tem a maçada de subir os degraus de uma escada; em casa dos ricos o ascensor substitui-a vantajosamente. Eu queria também encontrar um ascensor que me elevasse até Jesus, porque sou demasiado pequena para subir a rude escada da perfeição. Então, procurei nos Livros Sagrados a indicação do ascensor, objeto do meu desejo, e li estas palavras saídas da boca da Sabedoria eterna: Se alguém for pequenino, venha a mim. Então, aproximei-me, adivinhando que tinha encontrado o que procurava, e quis saber, ó meu Deus!, o que faríeis ao pequenino que respondesse ao vosso apelo. Continuei as minhas buscas, e eis o que encontrei: como uma mãe acaricia o seu filho, assim eu vos consolarei; levar-vos-ei ao colo e embalar-vos-ei nos meus joelhos! Ah!, nunca palavras tão ternas e tão melodiosas me vieram alegrar a alma. O ascensor que me há de elevar até ao Céu, são os vossos braços, ó Jesus! Para isso não tenho necessidade de crescer; pelo contrário, é preciso que eu permaneça pequena, e que me torne cada vez mais pequena”. 

Porque há discursos e escritos como a espada de Dom Afonso Henriques, isto é, pesados, chatos e longos, (como este meu, possivelmente! mas vou-me converter, na quaresma!), quando o conteúdo e o estilo dos livros a cansavam e confundiam, ela reagia: “Às vezes quando leio certos tratados espirituais, a perfeição é apresentada através de inúmeras dificuldades, rodeada por uma quantidade de ilusões. A minha pobre inteligência cansa-se muito depressa, fecho o sábio livro que me quebra a cabeça e me seca o coração e pego na Sagrada Escritura. Então tudo me parece luminoso, uma só palavra revela à minha alma horizontes infinitos, a perfeição parece-me fácil, vejo que basta reconhecer o próprio nada e abandonar-se como uma criança nos braços de Deus. Deixando às almas grandes, às grandes inteligências, os belos livros que não posso compreender, e ainda menos pôr em prática, regozijo-me por ser pequenina visto que só as crianças e os que se assemelharem a elas serão admitidas ao banquete celestial. Sinto-me muito feliz por haver várias moradas no reino de Deus, porque se houvesse apenas aquela cuja descrição e caminho me parecem incompreensíveis, não poderia lá entrar”.

Teresinha gostava de flores e de jogar as pétalas ao ver passar o Santíssimo Sacramento na custódia e de as lançar ao crucifixo do jardim do Carmelo: “Não tenho outro meio de Te provar o meu amor, senão o de lançar flores, isto é, não deixar escapar nenhum pequeno sacrifício, nenhum olhar, nenhuma palavra; aproveitar todas as mais pequenas coisas e fazê-las por amor…Quero sofrer por amor e gozar por amor. Assim lançarei flores diante do teu trono. Não encontrarei nenhuma sem a desfolhar para Ti”. 

Ao terminar a sua carreira, afirmou que ia fazer chover sobre o mundo uma chuva de rosas, isto é, que sempre iria interceder a Deus por todos os povos. Faleceu a 30 de setembro de 1897, de tuberculose, aos 24 anos. É uma das santas mais populares, com muita devoção. 

Canonizada em maio de 1925, foi declarada Padroeira das Missões Católicas em 1927, sem nunca ter saído do convento. São João Paulo II declarou-a Doutora da Igreja. Com Joana d’Arc, é Padroeira de França. 

Sentindo-nos ao colo de Maria, a Mãe, encontraremos o “caminhito” mais curto para chegarmos até Jesus, o verdadeiro “ascensor” que nos há de levar ao céu, vivendo n’Ele, como Ele, com Ele e os outros. Lancemos flores diante do trono da graça, façamos por amor e com amor as maiores e as mais pequeninas coisas de cada dia, oferecendo-as pelas grandes intenções da Igreja e do mundo.

 

Antonino Dias

Portalegre-Castelo Branco, 09-10-2020.

 

P.S:

Amanhã, em Assis, é beatificado Carlo Acutis, um jovem cuja fama de santidade rapidamente atravessou o mundo e muitos se têm sentido tocados por ele, para Cristo. Nas páginas da internet abundam as referências. Aqui, no facebook, também eu escrevi sobre ele, em 27 de março. Se o desejar, poderá recordar a sua vida.       

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