A JMJ2023, segundo o meu entendimento e nestes tempos mais chegados, foi um exemplo excelente de sinodalidade, desde as cúpulas mais altas da organização, passando pelas intermédias até às bases mais simples e longínquas, envolvendo crentes e não crentes, autoridades, famílias, instituições, escolas, movimentos, associações, comunidades paroquiais com as suas crianças, jovens, adultos, idosos e doentes.
Com alegria e entusiasmo, congregaram-se vontades, competências e sinergias, para, escutando-se uns aos outros com respeito e atenção, discernir o melhor, e, com imensa jovialidade e empenho, se meter mãos à obra, tendo-se conseguido um resultado conjunto e belo aos olhos de todos, deixando marcas saudáveis no coração de muita gente.
Em janeiro deste ano, em Fátima, decorreu um Encontro Sinodal Nacional, com cerca de 300 participantes, gente empenhada de todas as dioceses portuguesas. O propósito deste encontro foi o de, tendo como base o Documento Final do Sínodo, discernir e inserir, nas Igrejas locais, a transformação sinodal proposta para toda a Igreja. Não sendo uma opção, mas uma caraterística essencial da Igreja, a sinodalidade não só implica uma mudança de mentalidade e de ação, como também implica uma espiritualidade que leve ao envolvimento, à compaixão e à solidariedade. E tudo isso sem descurar a formação contínua em chave missionária, com abertura à sociedade e ao diálogo com a cultura, nomeadamente com as periferias, em especial com os migrantes, sem medo da novidade e de arriscar em busca de novas formas de agir, aprofundando a espiritualidade batismal e potenciando a escuta e a conversação no Espírito.
Já neste mês de junho, mais uma vez em Fátima, decorreram as Jornadas Pastorais do Episcopado com a participação de representantes das equipas sinodais diocesanas, dos órgãos nacionais da Conferência Episcopal Portuguesa, bem como com membros dos Movimentos e dos Institutos Religiosos e Seculares. Como lemos no Comunicado Final, mais do que um encontro de balanço, estas jornadas procuraram ser um verdadeiro exercício de sinodalidade, onde, cada voz, a partir do seu Batismo, foi chamada a contribuir para a construção de uma Igreja que caminha junta, em permanente conversão e aberta ao Espírito. A partilha revelou a riqueza do sensus fidei do Povo de Deus, manifestando um autêntico desejo de se aprofundar e alargar os horizontes do caminho sinodal. Identificaram-se e destacaram-se dimensões importantes, sem esquecer a “dimensão pastoral, que apela à ousadia missionária; a fraterna e comunitária, que exige a reconciliação e o cuidado nas relações; a ontológica, que reconhece a necessidade de autoconhecimento para a verdadeira entrega; a formativa, que aponta a urgência de formar para a sinodalidade; a ministerial, que valoriza os diversos carismas e vocações na Igreja; a histórica, que convida a ler com sabedoria os sinais dos tempos; e a contemplativa, que recorda que a oração partilhada é o coração do discernimento comum”. Sem pretensão de esgotar a riqueza do tema, estas dimensões apontam para uma espiritualidade encarnada, dialogante e atenta à realidade concreta das comunidades. Foi bom constatar que todas as Dioceses estão envolvidas neste caminho sinodal, com ritmos e metodologias próprias, na certeza de que o caminho se faz caminhando, o qual não é isento de alguns solavancos como as resistências culturais, a falta de tempo e de meios, as dificuldades de comunicação, o cansaço institucional ou pessoal.
A atualização e o funcionamento das estruturas; uma comunicação mais atenta e presente; uma maior transparência na prestação de contas em todos os âmbitos do fazer; uma maior articulação entre as estruturas nacionais, diocesanas e outras; a revisão de estatutos que conjuguem diversas vocações, experiências e saberes da vida eclesial, valorizando tanto as competências técnicas como a maturidade espiritual; o delinear, a nível nacional, algumas linhas programáticas comuns para a ação pastoral da Igreja em Portugal; a partilha de boas práticas entre todas as instâncias; a construção conjunta de projetos pastorais, reunindo sinergias, convergências e espírito de unidade, sem sufocar a legítima diversidade; e a cultura de avaliar para crescer, de escutar para corrigir, de discernir para decidir em comunhão, também foram questões em cima da mesa.
Olhamos estas Jornadas num horizonte de esperança e de compromisso renovado, pois, a sinodalidade, segundo o Papa Leão XIV “deve-se tornar mentalidade, no coração, nos processos de decisão e nos modos de agir”. Caminhar juntos, escutar com mais profundidade, discernir com o coração e decidir com humildade é o desafio que brota do Evangelho e do sopro do Espírito, exigindo coragem, conversão e perseverança.
Antonino Dias
Portalegre-Castelo Branco, 20-06-2025.