Queixoperra não se coloca em bicos de pés para ombrear com as grandes metrópoles ou as importantes terras que se espraiam em iniciativas culturais e títulos de jornais a fazer ecoar, ao perto e ao longe, os seus pergaminhos e penachos, os muitos acontecimentos e os sonantes discursos a fazerem crer que agora é que foi ou vai ser!

Queixoperra é Queixoperra, e pronto, ponto. Discreta mas eficaz, a sua gente tem os pés bem assentes no chão. Não dá passo maior que a perna, não vai em cantigas, é da fibra de antes quebrar que torcer!

Por acaso o leitor sabe onde fica Queixoperra?… Fica em Penhascoso. E sabe onde é Penhascoso?… Eu faço de GPS: indo na A23, Norte-Sul, na autoestrada da Beira Interior que a Wikipédia diz que também atravessa Portalegre (olaré!…), encoste-se ligeiramente à direita e pisgue-se pela saída 12. Vire novamente à direita para o acesso a Mação. Sem entrar em Rosmaninhal e no Casal da Barba Pouca, na próxima rotunda saia na segunda saída, enfie-se por essa estrada adentro e lá chegará. É uma terra do concelho de Mação que, por critérios de quem ajuíza e decide – aliás, nem sempre bem e muito menos a gosto dos residentes! -, é uma terra que perdeu a sua titularidade de freguesia e pertence agora à União de Freguesias de Mação, Penhascoso e Aboboreira: o plural de comboio é vagões, pois claro!

Pois foi aí que, numa cimeira ao mais alto nível do Movimento a que pertencem, se juntaram peritos na ciência e arte de bem agir em função das mui elevadas e nobres causas em prol daquela humanidade tão rica em conhecimento e travessuras quão pobre em sabedoria e valores. Em Queixoperra, gente de cá, e outra coligada desde alguns cantos do mundo, juntou-se à iniciativa para se dizer e explicar, e bem.

Proveniente das cristas quartzíticas de junto aos icnofósseis de Cruziana rugosa da bela terra de Penha Garcia, onde a natureza caprichou e eu me encontrava em pastoreio de outras ovelhinhas do mesmo rebanho, também desci, apressadamente, por ruas estreitas e curvas inclinadas a indicarem becos e escadinhas, para chegar a tempo a Queixoperra e nada perder de importante. Pelo que vi e ouvi, ninguém ali prometeu fosse o que fosse, a não ser continuar a dar as mãos para a concretização dos objetivos há muito delineados. Quem usou da tribuna apenas disse o que fazia com muita resiliência para melhor alavancar, em si e nos outros, o projeto que a todos honra e beneficia, mesmo sem majorações no pré, que, muitas vezes, por amor à causa e pela consciência de ser fermento, bem como pelo gosto que dá, o trabalho vai muito para além das horas extraordinárias. E neste cacarejar épico com que narro o facto, que bem me sabe usar os termos da altíssima ciência hodiernamente em voga: resiliência!… alavancar!… majoração!… descarbonização!… oh, que bem sabe, até dá estatuto!…

Dos presentes, porém, quem o quis fazer, não foram os únicos a usar da palavra. É verdade que não era a Conferência dos Oceanos em Lisboa, nem a Cimeira da NATO em Madrid, nem o Congresso do PSD no Porto, nem aquela magna reunião ministerial portuguesa a fazer lembrar a ida de Henrique IV a Canossa e a de Egas Moniz a Toledo, ambos mui contritos e suplicantes. Mas houve gente que enviou mensagens de aplauso, manifestando alegria e comunhão por tão solene e importante acontecimento em Queixoperra. Mensagens que vieram de Portugal, claro, mas também de Espanha, México, Itália, Colômbia, Brasil, Argentina, Costa Rica, Estados Unidos da América, Chile, Panamá, Venezuela, Perú, Nicarágua e Paraguai. Algumas foram lidas, todas foram arquivadas para memória futura e estímulo para quem as ouviu, leu ou lerá.

Sendo a grandeza a única medida das coisas grandes, assim decorreu a Ultreia Diocesana do Movimento dos Cursilhos de Cristandade, na Queixoperra, em dia do Encontro Mundial das Famílias, em Roma. Cinquenta e quatro dioceses de quinze países marcaram a sua presença, manifestando a comunhão e a catolicidade da Igreja, uma Igreja a caminho, peregrina. Ultreia é grito de coragem, de incentivo e motivação para se ir mais além, sem desânimo nem desistências, mas com ‘resiliência’, sem ‘majorações no pré’, ‘alavancando’ o essencial para descarbonizar corações, tão poluídos e endurecidos. Unidos e partilhando experiências, tudo ajuda a renovar e a procurar energias novas e alternativas, incita a oxigenar a mente e o cérebro, faz abolir as cortinas blecaute que escondem o radioso SOL que aquece o coração humano, ilumina os caminhos da vida, faz apreciar os valores da fraternidade universal e abjura o relativismo que mata, descarta e destrói sem dó nem piedade.

Sabemos que é importante apostar nos sistemas de ensino. No entanto, mesmo que se ensine muito e muito se saiba, quem tenta não falhar na missão de educar – que não é bem a mesma coisa! -, sente-se frágil, desautorizado, incapaz: pais queixam-se, professores queixam-se, quem tem responsabilidades queixa-se, quem não tem responsabilidades geme e pragueja baixinho perante o que não gosta de ver e sentir. Quando se facilita ou promove superficialidades educativas, esquecendo, por meros conceitos ideológicos e quejandos, a importância dos princípios morais e éticos que garantem a convivência pacífica, honesta e justa entre as pessoas, os noticiários enchem-se com casos que a todos envergonham, entristecem e fazem sofrer.

Sem esquecer essas preocupações, os participantes nesta importante cimeira estão convictos de que levar a todos o Evangelho e os seus valores, constitui "o serviço mais precioso que a Igreja pode render à humanidade e a cada pessoa que busca razões profundas para viver em plenitude". Esta missão de Cristo confiada à Igreja “ainda está bem longe de ser cumprida”, está no princípio. E é uma tarefa que não pode deixar de considerar “os temas que envolvem a promoção humana, a justiça, a liberdade a cada forma de opressão”. Ignorar os problemas temporais da humanidade significaria esquecer a lição que vem do Evangelho sobre o amor ao próximo e não se estaria em sintonia com o comportamento de Jesus que “percorria todas as cidades e aldeias. Ensinava nas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino e curando todo o mal e toda a enfermidade" (cf. Bento XVI, dia das Missões, 2011).

Parabéns, Queixoperra, e todos os participantes!

Plus ultra!

Antonino Dias

Portalegre-Castelo Branco, 01-07-2022.

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