Não sei bem como aquecer os motores para escrever este texto, mas vamos lá tentar, tudo vai do começar! Ainda por cima, muita gente não consegue enxergar o meu nome. Não porque seja difícil, mas porque escorregam na leitura como atleta experiente em cima da neve. E, catrapus, nome atropelado! Mas, a rir que o digamos, não faltam por aí avós a decepar o nome dos seus netos, solfejam-nos como lhes soa. Exercício mais difícil ainda é escrevê-los, só olhando e copiando. Aos cristãos, a Igreja aconselha a que deem nomes de inspiração cristã. Há quem tenha o nome dum santo, conhece o seu testemunho de vida, sente-se estimulado por ele e pede a sua intercessão, é bonito e proveitoso!

Serviu-me de pretexto para escrever este artigo o facto de uma congregação religiosa celebrar, no fim deste mês, a festa do Santíssimo nome de Jesus, uma festa que, ao longo dos tempos, se foi estendendo a toda a Igreja. Por isso, primeiramente vou falar do que realmente está primeiro. E o primeiro nome que nos merece toda a atenção é, de facto, o nome de Jesus, o qual também significa que o próprio nome de Deus – “Eu sou Aquele que sou” – “Eu sou enviou-me a vós” (Ex 3, 14) -, está presente na Pessoa de seu Filho.

O segundo Mandamento manda respeitar o nome do Senhor, manda não invocar o nome de Deus em vão (cf. Ex 20, 7). O nome de Deus é santo, não se deve invocar inutilmente, sem verdade, levianamente. Em tom de confidência e intimidade, Deus confia o seu nome aos que n’Ele creem, os quais devem pronunciá-lo e invocá-lo com respeito, com veneração e fé, não de forma inconveniente ou menos digna.

O profeta Joel, do Antigo Testamento, escreveu que “todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo” (Jl 3,5). É pelo nome de Deus, guardado no silêncio da memória e do coração, que entramos na sua intimidade, experimentamos o seu amor e a sua misericórdia, sentimos a alegria de o bendizer, louvar, glorificar, contemplar e lhe agradecer.

Era ao pai, segundo a tradição judaica, que competia dar o nome aos filhos. O nome de Jesus, foi-lhe dado do Alto, como uma graça, um dom do Pai. Aquando da Anunciação, o Anjo disse a Maria: “Eis que conceberás e darás à luz um Filho, e Lhe porás o nome de Jesus” (Lc 1, 30-31). E a José foi dito que Maria dará à luz um filho, “a quem porás o nome de Jesus, porque Ele salvará o seu povo de seus pecados” (Mt 1, 20-21). Oito dias depois de ter nascido, José e Maria levaram o Menino ao Templo onde lhe foi “posto o nome de Jesus”, como o Anjo lhes tinha dito (Lc 2,21).

São Paulo diz que Deus deu a Jesus “o nome que está acima de todos os nomes, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho no céu, na terra e sob a terra. E toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai” (Fil 2,9-11).

Às birras dos chefes do povo, doutores da lei e anciãos reunidos em Jerusalém por causa da cura dum paralítico, São Pedro afirma-lhes categoricamente que, de facto, “debaixo do céu não existe outro nome dado aos homens pelo qual possamos ser salvos” (At 4,12). Isto fazia muita mossa aos fariseus e doutores da lei que, perante as evidências do acontecido, não queriam que a boa notícia se divulgasse. Por isso, acordaram: “para que esta notícia não se espalhe ainda mais entre o povo, vamos ameaçá-los, para que não falem a mais ninguém a respeito do nome de Jesus” (At 4,17). Os Apóstolos, porém, não acataram, antes pelo contrário, ripostaram: “não podemos calar-nos sobre o que vimos e ouvimos” (At 4,19-20).

Sendo o “nome que está acima de todos os nomes”, é pelo nome de Jesus que tudo acontece na sua Igreja e no mundo e que “todo aquele que invocar o nome do Senhor, será salvo” (At 2,21).

Em nome do Senhor, os Apóstolos fizeram maravilhas, expulsaram demónios, falaram novas línguas, curaram doentes, divulgaram a Boa Nova (Mc 16, 17-18).

O Catecismo da Igreja Católica lembra-nos que o Batismo é conferido “em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28, 19). Que o nome do Senhor é quem santifica o homem. Que o cristão recebe o seu nome na Igreja e começa o seu dia, as suas orações, as suas atividades, pelo sinal da cruz “em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”.

O nome de Jesus está no centro da liturgia e de toda a oração cristã. Ele dá vigor aos mártires e a todos os fiéis que lutam pela fé, nele pomos a nossa confiança. A quem o invocar, ele ajuda a triunfar diante das dificuldades, a viver segundo o Espírito, como filhos de Deus.

O nome de Jesus, em muitas partes do mundo, continua a ser proibido, perseguido, ultrajado. Há quem deite mão da blasfémia, do perjúrio e jure falso, invocando Deus como testemunha da mentira, não respeitam o nome do Senhor que é santo.

Cada um de nós tem o seu nome, um nome sagrado. É a imagem da pessoa, o sinal da dignidade de quem por ele se identifica, tem relevo jurídico. Não sendo exclusivo, individualiza a pessoa, mesmo quando ausente, protege a sua esfera privada e a sua identidade, é um sinal distintivo, identifica-a socialmente. Toda a gente tem direito ao bom nome e o dever de fazer por isso.

Ninguém mais do que Deus nos respeita, Ele chama a cada um de nós pelo seu nome, e disse-nos: “O que pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo dará” (Jo 16,23). Um dos que foram crucificados a seu lado, logo lhe pediu: “Jesus, lembra-te de mim, quando entrares no teu Reino!”, “Em verdade te digo: hoje mesmo estarás comigo no paraíso.”

Invoquemos o Santíssimo nome de Jesus. “Tudo quanto fizerdes, por palavras ou por obras, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando graças a Deus Pai por meio d’Ele” (Cl 3,17). Pai, “santificado seja o vosso nome”. “Senhor, nosso Deus, como é admirável o vosso nome em toda a terra! (Sl 8, 2). “Senhor, eu amo-Te”, foram as últimas palavras de Bento XVI.

Antonino Dias

Portalegre-Castelo Branco, 27-01-2023.

 

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