Pastoralmente falando, o que será o novo? O que será a novidade? E como se há de apresentar e oferecer? Com que meios, com que métodos, com que técnicas e estratégias?

Cristo é a Boa-Nova por excelência, é sempre jovem, fonte de constante novidade. “Com a sua novidade, Ele pode sempre renovar a nossa vida e a nossa comunidade, e a proposta cristã, ainda que atravesse períodos obscuros e fraquezas eclesiais, nunca envelhece. Jesus Cristo pode romper também os esquemas enfadonhos em que pretendemos aprisioná-l’O, e surpreende-nos com a sua constante criatividade divina. Sempre que procuramos voltar à fonte e recuperar o frescor original do Evangelho, despontam novas estradas, métodos criativos, outras formas de expressão, sinais mais eloquentes, palavras cheias de renovado significado para o mundo atual. Na realidade, toda a ação evangelizadora autêntica é sempre «nova» (EG11). Sabendo embora que a Boa Nova é a melhor notícia que se pode dar aos outros, também sabemos que é difícil inovar para fazer passar tal mensagem. É que, inovar, como afirma alguém, não é fazer melhor o que sempre se fez! Não basta agitar as pessoas ou as comunidades com iniciativas sem sumo nem continuidade. A evangelização precisa de espírito, de entusiasmo, de análise da situação, de prioridades, de conteúdos, de objetivos e programação, de novo vigor, nova linguagem, novo estilo, de humildade e persistência, de estruturas que ajudem e não sejam empecilho. Sim, a inovação pastoral ou evangeliza a partir do essencial e do mais importante e necessário ou logo desencanta e afasta quem alimentou alguma esperança de vir a fazer caminhada.

Vejam, por exemplo: o que é que acontece com os grupos de jovens? Só perduram no tempo os que têm vida cristã autêntica, com conteúdos sérios, criatividade na arte de os fazer passar e forte espiritualidade a apoiá-los, em proximidade e amizade.
O que é que acontece com as Confrarias e Irmandades? Só restam como fermento na sociedade envolvente as que têm verdadeira vida cristã, aquelas em que há, de facto, vida espiritual e sabem apostar na formação na fé dos seus membros, criando-lhes consciência de pertença e do que deles, como irmãos ou confrades, se espera.
O que acontece com as famílias que casaram pela Igreja? Só permanecem verdadeiramente cristãs as que rezam, frequentam o culto, evangelizam os seus e participam na dinâmica da comunidade com alegria, qual família mais alargada, educando também para o exercício da cidadania que reclama integração, compromisso e ação.
Quais são os movimentos de apostolado com capacidade para fomentar uma verdadeira pastoral de gestação? Só os que, sendo ainda atuais e atuantes, são fiéis ao seu carisma fundacional, que é sempre de criatividade em cada tempo, de exigência espiritual e de formação permanente, verdadeiro motor da sua ação.
Quais as paróquias que são verdadeiras comunidades eclesiais a fomentar a cultura do encontro e da caridade? São as que têm vida espiritual que desassossega e desinstala para ir às periferias, as que têm capacidade de fomentar a proximidade, o acolhimento e o afeto, as que se impõem a si próprias formação permanente na fé, as que têm a Eucaristia como força centrípeta para todos e, de forma muito especial, para os comprometidos na diversidade dos serviços, para que não se constituam em capelinhas dentro da igreja, mas deem testemunho de comunhão e de alegria contagiante. A vida cristã autêntica está sempre aberta à ação do Espírito e atenta aos sinais dos tempos, é sempre criativa, inovadora e em saída: «Vamos para outra parte, para as aldeias vizinhas, a fim de pregar aí, pois foi para isso que Eu vim» (Mc 1, 38).
Quando se vive apoiado nas verdadeiras raízes da história cristã, quando se tem como exemplo o próprio Cristo que sempre sabia inovar para tocar o coração das pessoas, que, respeitando a verdadeira tradição, sempre sabia rejeitar os tradicionalismos estéreis e prejudiciais, então conseguiremos viver eficazmente o presente, inovando, gerando empatia, lançando raízes para criar e fazer crescer um futuro mais justo e mais humano, com esperança.
É por isso que a pastoral duma comunidade cristã não pode ser improvisada, tem de ter prioridades, tem de ter objetivos, tem de, em sintonia com a inspiração do Espírito Santo, tem de ser pensada colegialmente para que também surja o compromisso das pessoas na sua concretização, tem de ser constantemente avaliada nas várias dimensões em que deve influir.
O Cardeal Seán O’Malley, Bispo de Boston, num dos seus últimos livros recorda que o Cardeal Carlo Maria Martini, numa leitura atenta dos quatro evangelhos, apontava cinco principais prioridades de Jesus:
— A primeira prioridade segundo a análise de Martini era a assistência de Jesus aos doentes e aos que sofrem. Grande parte dos episódios do Evangelho têm como protagonistas as pessoas que sofrem, as que têm fome, as que precisam de perdão, os marginalizados, os que precisam de atenção. Isto é, a misericórdia, a preocupação pelas pessoas.
— A segunda prioridade é, de facto, a pregação do Evangelho, o anúncio do Reino, a Boa Nova: “Depois que João foi preso, veio Jesus para a Galileia proclamando o Evangelho de Deus: “O Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e acreditai no Evangelho” (Mc 1, 14-15).
— A terceira prioridade eram as reuniões, os encontros, os diálogos e as conversas que Jesus tinha com aqueles que O escutavam e seguiam. Era o encontro, o contacto direto com as pessoas.
— A quarta prioridade era a oração. Jesus dedicava grandes momentos à oração: de manhã cedo, de noite, em lugares isolados, no deserto, na montanha… Sentia necessidade de momentos ainda mais fortes de oração em vésperas de opções fundamentais, rezava sozinho, rezava com os Apóstolos, participava na vida litúrgica do Seu povo.
— A quinta prioridade era o tempo que Jesus dedicava aos seus amigos. Primeiro, o tempo que dedicava à formação dos Apóstolos e dos discípulos a quem chamava amigos. E também o tempo que dedicava à formação dos outros (cf. Séan O’Malley, Procura-se Amigos e Lavadores de Pés, Ed. Paulinas, 2019, pág. 71-73).
Ao iniciarmos um novo ano pastoral, que prioridades teremos nós? Embora saibamos que a Eucaristia faz a Igreja e que há momentos fortes a aproveitar pastoralmente, como a celebração das exéquias, dos sacramentos e das festas, o zelo pastoral não pode reduzir-se à celebração da eucaristia. As prioridades apontadas por Martini bem podem ser um bom ponto de partida para novos e renovados desafios: misericórdia, pregação, contacto pessoal, oração e formação dos colaboradores.

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