Como temos de ser construtores da fraternidade universal e estes acontecimentos são importantes, mesmo que não costume escrever neste dia, venho fazer-lhe um convite. Se puder, venha daí. É já na próxima quinta-feira, dia 4 de fevereiro, com início à 13, 30 horas. Não falte, não está proibida, ninguém fará queixa à polícia, não precisa de se esconder na cave ou de fugir pelas traseiras, não precisa de bilhete, nem de transporte, nem de roupa de gala e maquiagem. Essa morrinha do coronavírus também não o infetará. Basta, àquela hora, clicar em www.vaticannews.va e até o próprio confinamento lhe será mais leve e proveitoso, esperamos que sim. É o Dia Internacional da Fraternidade Humana, uma celebração virtual, transmitida em várias línguas, e organizada pelo Xeique Mohammed bin Zayed em Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos. Tem a participação do Grande Imã de Al-Azhar, Ahmad Al-Tayyeb, do Papa Francisco e outros organismos da Santa Sé, do Secretário Geral das Nações Unidas, António Guterres, e de outras personalidades. Na mesma ocasião será atribuído o Prémio Zayed, um prémio a distinguir quem, ao longo da vida, muito trabalhou em prol da Fraternidade Humana. 

Um pouco de história: no dia 4 de fevereiro de 2019, durante a Viagem Apostólica de Sua Santidade aos Emirados Árabes Unidos, o Papa Francisco e o Grão-Imã de Al-Azhar assinaram o Documento sobre a Fraternidade Humana em prol da Paz Mundial e da Convivência Comum. Ficou conhecido como o Documento sobre a Fraternidade Humana. Para pôr em prática este Documento, em 20 de agosto do mesmo ano foi instituído o Comité Superior da Fraternidade Humana, composto por diferentes líderes religiosos internacionais, intelectuais e líderes culturais que se dedicam a partilhar a sua mensagem de compreensão mútua e de paz, e a disseminar os valores de respeito mútuo e de coexistência pacífica. 

A 3 de outubro de 2020, em Assis, o Papa Francisco assinou a extraordinária Carta Encíclica Fratelli tutti, sobre a Fraternidade e a Amizade Social, onde reúne e desenvolve grandes temas expostos naquele documento sobre a Fraternidade Humana ao qual Francisco se refere: “Naquele encontro fraterno, que recordo jubilosamente, com o Grande Imã Ahmad Al-Tayyeb «declaramos – firmemente – que as religiões nunca incitam à guerra e não solicitam sentimentos de ódio, hostilidade, extremismo nem convidam à violência ou ao derramamento de sangue. Estas calamidades são fruto de desvio dos ensinamentos religiosos, do uso político das religiões e também das interpretações de grupos de homens de religião que abusaram – nalgumas fases da história – da influência do sentimento religioso sobre os corações dos homens (…). Com efeito Deus, o Todo-Poderoso, não precisa de ser defendido por ninguém e não quer que o Seu nome seja usado para aterrorizar as pessoas» (FT285).

Neste seguimento, em 21 de dezembro de 2020, a Assembleia Geral das Nações Unidas declarou a data de 4 de fevereiro como Dia Internacional da Fraternidade Humana, a ser celebrado como cada país achar por bem. 

Como seres humanos, temos um Pai comum, recorda-nos Francisco na Fratelli Tutti. Sem abertura a este Pai comum não pode haver razões sólidas e estáveis para o apelo à fraternidade. Dificilmente nos reconheceremos como irmãos e irmãs. A fraternidade não se constrói apenas com o respeito pelas liberdades individuais, nem pela prática duma certa equidade. A Fraternidade tem algo de positivo a oferecer à liberdade e à igualdade e só pode ser construída por espíritos livres e dispostos à cultura do encontro. Todo o ser humano tem direito a viver com dignidade e a desenvolver-se integralmente, quando não se salvaguarda este principio elementar, não há́ futuro para a fraternidade nem para a sobrevivência da humanidade. E se há muitas pontas a unir para a construção da verdadeira fraternidade universal, uma dessas pontas que não pode ser esquecida, é a liberdade religiosa para os crentes de todas as religiões. É urgente uma sincera e verdadeira espiritualidade da fraternidade, uma organização mundial mais eficiente e que se dê conta “de quanto vale um ser humano, de quanto vale uma pessoa, sempre e em quaisquer circunstâncias” (FT106), políticas criativas e atentas ao bem comum para ajudar a resolver os problemas prementes das sociedades e desta casa de todos. Como lemos na Fratelli tutti, enquanto o nosso sistema económico-social produzir uma só́ vitima que seja e houver uma pessoa descartada, não poderá́ haver a festa da fraternidade universal (FT 110). 

Antonino Dias

Portalegre-Castelo Branco, 02-02-2021.

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