Portalegre-Castelo Branco, 15-02-2019

Celebramos o Dia dos Namorados em dia de São Valentim. Saudações amigas para todos e votos de muitas felicidades. Os vários interesses da sociedade sempre falam mais alto do que a criatividade de quem sente a responsabilidade de motivar os jovens para o dever que lhes cabe de se irem preparando para, quando o tempo chegar e se for essa a opção, poderem constituir famílias saudáveis e felizes. Entendo que esta preocupação e tarefa deveria ser sentida por todos como causa própria: por famílias, comunidades cristãs e outras comunidades, instituições, pessoas de boa vontade e pelo próprio Estado. Aprofundar e educar para os valores e a riqueza da família vai sendo coisa rara. Não só por isso, mas também por isso, as falências familiares multiplicam-se. É verdade que, por razões várias e nem sempre prevenidas, pode ter-se chegado a situações em que a separação seja totalmente inevitável, como remédio extremo e até moralmente necessário. Sim, exceções sempre houve, é verdade, mas vai-se constatando que a exceção teima em se impor como regra. A sociedade, já tristemente eivada pelo fenómeno, surge apenas com grandes preocupações em remediar os seus efeitos, com tribunais, leis sem conta e minuciosas e, por vezes, em situações duvidosas, até deixa transparecer excesso de zelo que só faz sofrer. Gostaríamos que, mesmo remediando os efeitos, cuidasse mais do tratamento dessa doença social. Isso, porém, não acontece, antes pelo contrário. A sociedade mofa da estabilidade conjugal e das famílias numerosas, promove e divulga contravalores familiares, ensina coisas, coisas que, sem educação e valores, podem ser muito importantes e necessárias, mas vão gerar superioridades autorreferenciais e empresários do descarte, do usa e deita fora. 
Apesar de tudo, apesar dos ventos contrários e das águas movediças, apesar de aparentarmos ser vozes solitárias a clamar no deserto, não podemos desistir de remar contra a maré. Vamos fazendo a nossa parte com pena de nem sempre ser da melhor forma ou da forma mais eficaz. É como sabemos e podemos, sempre com humildade e respeito pelas pessoas. Conhecedora da história e com uma história de dois mil anos, a Igreja não esquece que a destruição da família nunca conduziu as sociedades a bom porto. A Exortação Apostólica do Papa Francisco sobre a Alegria do Amor, sobretudo no seu capítulo VI, aponta-nos caminhos pastorais para um sério empenhamento na preparação para o matrimónio dos jovens cristãos e dos de boa vontade. O namoro é um direito e um dever para quem deseja constituir família. É um tempo necessário para individualizar convergências, incompatibilidades e riscos. Não deve esconder ou relativizar o que é importante avaliar, nem evitar as discordâncias ou adiar as dificuldades. No entanto, se tudo acontece de braço dado com o controlo, ameaças, agressões, chantagens, difamações, medos, manhosices: se isso acontece, melhor será ter a coragem de acabar, não há educação humana nem as mínimas condições exigidas para prosseguir. Cada um deve sentir-se no dever de expressar ao outro o que entende e espera dum eventual matrimónio, comunidade de vida e de amor aberta à vida. Deve expor o seu entendimento sobre o que é para si o amor e o mútuo compromisso. Deve partilhar o que deseja do outro e o tipo de vida em comum que sonha e gostaria de concretizar. Deve detetar, antes do matrimónio, os sinais de perigo que a relação pode vir a apresentar e se há meios que permitam enfrentá-los com êxito. Só a verdade liberta e constrói. O namoro ajuda a entender quais são os pontos de proximidade: se os há, se os não há, se são escassos, se são incompatíveis e sem solução, se são passíveis de uma caminhada conjunta. Ninguém ama o que não conhece e muitos decidem casar sem se conhecerem tanto quanto baste. Divertem-se, fazem experiências juntos, mas não enfrentam o desafio de se manifestar a si mesmos e apreender quem é realmente o outro. Aprender a amar alguém não é algo que se improvise ou se decida já e agora, sem demora, idealizando paraísos. A mera atração mútua, se é importante, não será suficiente para sustentar uma união estável e feliz. Há que aprofundar outras motivações que confiram ao possível matrimónio reais possibilidades de estabilidade e êxito, sem atitudes interesseiras ou jogos de tipo comercial. O matrimónio é uma questão de amor entre um homem e uma mulher que se escolhem livremente e se amam, passando de uma atração inicial, à necessidade do outro, do outro sentido como parte da própria vida. Se o amor se reduzir a uma mera atração ou a uma vaga afetividade, é de prever que o casal venha a sofrer grande fragilidade quando a afetividade entrar em crise ou a atração física diminuir. E muitas vezes o tempo de namoro e noivado é curto e leve, não é suficiente para uma verdadeira maturação. Por isso, depois se casarem, muitos continuam, e bem, a completar aquele percurso nos primeiros anos de vida matrimonial, enriquecendo e aprofundando a decisão consciente e livre de se pertencerem e amarem até ao fim. Os movimentos da pastoral familiar e as equipas de espiritualidade conjugal são um excelente meio para este crescimento. Como afirma Francisco, o amor é artesanal, o matrimónio é um caminho dinâmico de crescimento e realização, é um projeto sempre inacabado.
Os jovens, aqueles que têm a sorte de ser contagiados na dinâmica do amor e na abertura à comunidade pelo testemunho familiar, são os primeiros a saber aproveitar as instâncias e iniciativas de formação que a comunidade cristã oferece: os grupos de jovens com as suas atividades e convívio, os grupos de noivos, a ação social, a integração na vida eclesial, a oferta de palestras sobre uma variedade de temas que realmente interessam aos jovens, incluindo a castidade, os cursos antes da celebração do matrimónio, a possibilidade de alguns momentos personalizados, dado que o principal objetivo é ajudar cada um a aprender a amar a pessoa concreta com quem pretende partilhar a vida inteira, etc. Como se lê no documento, não se trata de saber o Catecismo inteiro nem de ficar empanturrado com o excesso de temas. Não é o muito saber que enche e satisfaz, mas o sentir e saborear interiormente as coisas, amadurecendo o amor e ganhando resistências saudáveis para o que de menos bom poderá surgir. Por isso, a prioridade é dada àqueles conteúdos que ajudam a celebrar o matrimónio com as melhores disposições e a começar a vida familiar com alguma solidez, alegria e esperança. Estas ajudas não são apenas doutrinais ou recursos espirituais que a Igreja sempre oferece, como a Reconciliação sacramental, os momentos de oração a sós e juntos, a oração de um pelo outro e de ambos a Deus para que sejam fiéis e generosos ao que Deus espera deles, a consagração do seu amor diante duma imagem de Maria… Devem ser também percursos práticos, conselhos bem encarnados, estratégias tomadas da experiência, orientações psicológicas, indicação de lugares e pessoas, consultórios ou famílias prontas a ajudar, aonde poderão dirigir-se em busca de ajuda se surgirem dificuldades. Tudo isto cria uma pedagogia do amor que, tendo em vista a sensibilidade atual dos jovens, os leva a querer assumir o matrimónio como uma vocação que os lança para diante, com a decisão firme e realista de atravessarem juntos as provações e os momentos difíceis até que a morte os separe (cf. AL206-214).

Antonino Dias 

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