Haverá alguém que dele não se lembre!?… Sim, os jovens de hoje não presenciaram o entusiasmo contagiante de São João Paulo II. No entanto, também eles usufruem das suas iniciativas e ensinamentos, dos seus apelos e desafios. Foi um dos líderes mais influentes da História do século XX. A sua longa peregrinação pelo mundo fez dele um lutador pela liberdade e pelos valores essenciais à dignidade humana. Sem medo e apelando à coragem, acelerou acontecimentos marcantes, destruir paredes e construiu pontes, abriu portas e rasgou horizontes, aglomerava multidões e falava energicamente. Vibrava com o entusiasmo da juventude cujas Jornadas Mundiais instituiu, pois, segundo ele, os jovens são, para a Igreja e para o Mundo, “um dom especial do Espírito de Deus”, eles sentem “um valor profundo daqueles valores autênticos que têm em Cristo a sua plenitude” (IN9). Apreciava o desporto, gostava do caiaque e do esqui, da literatura e do teatro, da poesia e da música, dos combates intelectuais com abertura às novidades e interrogações do tempo. Prezava a vida e o viver com fé o serviço à comunidade humana. Trabalhou pela promoção da família e da vida, das vocações consagradas e laicais, multiplicou os métodos de evangelização e fez despertar um novo dinamismo missionário, contribuiu profundamente para a unidade dos cristãos e para que a Igreja fosse verdadeiramente “a casa e a escola da comunhão”. Exortava os cristãos a que não ficassem indiferentes nem abdicassem de intervir na gestão pública, isto é, a que se envolvessem na política, na ação económica, social, legislativa e cultural para ajudarem a promover, de forma orgânica e institucional, o bem comum.

Denunciou a irresponsabilidade ecológica e defendeu o desenvolvimento sustentável, preocupou-se com os desequilíbrios económicos e sociais no mundo do trabalho e apelou a que o processo da globalização económica fosse gerido em função da solidariedade e do respeito devido à pessoa humana. Enfim, deixou um património imenso não só ao tesouro doutrinal da Igreja, em todas as suas áreas, mas à própria comunidade humana. Pensava no interior de uma multiplicidade de culturas e sabia expressar-se em italiano, francês, alemão, inglês, espanhol, português, ucraniano, russo, servo-croata, esperanto, grego clássico e latim, para além da sua língua materna. Verdadeiramente ecuménico e missionário, fez-se peregrino de todos os continentes, anunciando Jesus Cristo com energia, plenamente identificado com a Igreja e servindo com persistência e humildade. Visitou 129 países, alguns dos quais mais do que uma vez: em Portugal esteve por três vezes. Foi incansável em apelar a todos que tivessem a coragem de escancarar as portas a Cristo Redentor, “o fundamento e centro, o sentido e a meta última da História” (IN5). Teve um papel fundamental no esboroar de alguns regimes totalitários bem como na melhoria das relações da Igreja Católica com o Judaísmo, o Islão, a Igreja Ortodoxa, as Religiões orientais e a Comunhão Anglicana. Teve opositores, é verdade, estranho seria se os não tivesse! Sofreu atentados, entre os quais o de 13 de maio de 1981, na praça de São Pedro, no Vaticano. Uma das balas que o atingiu está incrustada na coroa da imagem principal do Santuário de Nossa Senhora de Fátima, a quem ele se sentia muito grato por lhe ter salvo a vida.
Nasceu em 18 de maio de 1920, na Polónia e viveu tempos politicamente difíceis e humilhantes, experiências inesquecíveis como a ocupação nazi do seu país, conforme ele dá conta: “vivi esse momento trágico quando o governador nazi Hans Frank se estabeleceu no castelo do Wawel, sobre o qual foi içada a bandeira da cruz gamada. Para mim foi uma experiência particularmente dolorosa”. Fecharam-se as universidades, os professores foram presos, os estudos interrompidos. Para evitar ser deportado, trabalhou como tarefeiro em restaurantes, como operário de minas e da indústria química. 
Cedo ficou órfão, cedo perdeu os seus irmãos: “Eu não estive presente na morte de minha mãe, nem na do meu irmão e nem na do meu pai (…) Aos vinte, eu já tinha perdido todos os que amava”. 
Após a morte de seu pai, e ficando sozinho, começou a considerar seriamente a ideia do sacerdócio. Bateu às portas do seu Bispo, o Arcebispo de Cracóvia, e logo começou a ter aulas no seminário clandestino. Em agosto de 1944, quando a Gestapo arrebanhou os homens de Cracóvia para que se evitassem revoltas, Karol conseguiu escapar, escondendo-se detrás de uma porta no porão de uma casa. Milhares de homens e rapazes foram levados prisioneiros naquele dia. Dali, refugiou-se em casa do Arcebispo de Cracóvia, onde permaneceu até à retirada dos alemães. Terminado os estudos no seminário de Cracóvia, foi ordenado sacerdote, no Dia de Todos os Santos de 1946. Continuou estudos em Roma e, no regresso à Polónia, foi-lhe entregue a sua primeira tarefa pastoral, uma paróquia. Ao chegar ao local, a sua primeira ação foi ajoelhar-se e beijar o chão, gesto que o Cura d’Ars tinha feito e que ele iria usar, mais tarde, como Papa, nos países que visitava. Foi mais tarde transferido para outra paróquia, foi professor universitário, tinha dois doutoramentos e publicava trabalhos de vários saberes, em revistas e livros. Nomeado Bispo-Auxiliar de Cracóvia, participou no Concílio Vaticano II e na redação de alguns dos seus documentos mais importantes. Fez parte de todos os sínodos posteriores, foi nomeado Arcebispo de Cracóvia e, depois, Cardeal. Após a morte de Paulo VI, participou na eleição de João Paulo I, que morreu 33 dias depois. O Cardeal Karol Wojtyla foi o eleito no conclave seguinte, tendo escolhido o nome de João Paulo II, com o lema Totus Tuus, tinha 58 anos de idade. À multidão reunida na Praça de São Pedro referiu que aceitara receber esta nomeação “com espírito de obediência a Nosso Senhor e com a confiança total na sua Mãe, a Virgem Santíssima…” 
Teve o terceiro maior pontificado da história, quase 27 anos: desde 16 de outubro de 1978 a 02 de abril de 2005, dia do seu falecimento, com Parkinson, abandonando-se em Deus e confiando-se a Maria Santíssima. Um ano depois da sua morte, uma morte esperada mas muito dolorosa, afirmava Bento XVI: “Nos últimos anos, o Senhor despojou-o gradualmente de tudo, para o assimilar plenamente a si. E quando já não podia viajar, e depois nem caminhar, e enfim nem falar, o seu gesto, o seu anúncio reduziu-se ao essencial: ao dom de si próprio até ao fim. A sua morte foi o cumprimento de um coerente testemunho de fé, que tocou o coração de tantos homens de boa vontade” .
Em 27 de abril de 2014, numa celebração presidida pelo Papa Francisco e com a presença do Papa Emérito Bento XVI, foi canonizado conjuntamente com o Papa João XXIII.

Antonino Dias
Portalegre-Castelo Branco, 15-05-2020.

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