Leão XIV pede aos jovens que arregacem as mangas e respondam com confiança, pois, quem os chama é generoso e não os deixará desiludidos. Para desenvolver este seu apelo, o Papa baseou-se na parábola daquele proprietário que “saiu de manhã cedo para contratar trabalhadores para a sua vinha. Depois de ter acordado com os trabalhadores um denário por dia, enviou-os para a sua vinha. Ao sair por volta da hora terceira, viu outros parados na praça pública sem fazer nada e disse-lhes: "Ide também vós para a vinha, e dar-vos-ei o que for justo". E eles foram. Ao sair de novo por volta da hora sexta e por volta da hora nona, fez o mesmo. Ao sair ainda por volta da hora décima primeira, encontrou outros, parados, e disse-lhes: "Porque estais aqui parados o dia inteiro sem fazer nada?". Disseram-lhe: "Porque ninguém nos contratou". Disse-lhes: "Ide também vós para a vinha". Ao cair da tarde, disse o senhor da vinha ao seu capataz: "Chama os trabalhadores e paga-lhes o salário, começando pelos últimos até aos primeiros". Vieram os da hora décima primeira e receberam um denário cada um, e quando vieram os primeiros pensaram que receberiam mais, mas receberam também eles um denário cada um. Ao recebê-lo, puseram-se a murmurar contra o senhor da casa, dizendo: "Estes últimos fizeram apenas uma hora e fizeste-lhes como a nós, que suportámos o peso do dia e o calor ardente". Mas ele, respondendo a um deles, disse: "Amigo, não estou a ser injusto contigo. Não acordaste comigo um denário? Leva o que é teu e vai-te embora. Quero dar a este último o mesmo que a ti. Ou não me é permitido fazer o que quero com aquilo que é meu? Ou o teu olho é mau, porque eu sou bom?". Assim, os últimos serão os primeiros, e os primeiros últimos’ (Mt 20,1-16).
Foi sobre esta parábola de Jesus que Leão XIV fez a sua catequese na quarta-feira passada, desafiando à esperança, apoiado neste dono que sai várias vezes à procura de quem espera dar um sentido à sua vida. Para nos irmos habituando à sua forma de comunicar, aqui realço a força da sua palavra. Dizia ele que, não raro, “temos a impressão de não conseguir encontrar um sentido para a nossa vida: sentimo-nos inúteis, inadequados, precisamente como os operários que aguardam na praça do mercado, à espera de que alguém os leve para trabalhar. Mas, por vezes, o tempo passa, a vida corre, e não nos sentimos reconhecidos nem apreciados. Talvez não tenhamos chegado a tempo, talvez outros se tenham apresentado antes de nós, ou porventura as preocupações nos tenham detido noutro lugar. A metáfora da praça do mercado é muito adequada até aos nossos tempos, pois o mercado é o lugar dos negócios, onde infelizmente as pessoas compram e vendem até o afeto e a dignidade, procurando obter algum lucro. E quando não se sentem valorizadas, reconhecidas, chegam a correr o risco de se vender ao primeiro licitante. Ao contrário, o Senhor recorda-nos que a nossa vida tem valor, e o seu desejo é ajudar-nos a descobri-lo”. Nesta parábola, em que os operários esperam que alguém lhes dê trabalho para aquele dia, “encontramos uma figura que tem um comportamento insólito, que surpreende e questiona. É o dono de uma vinha que sai pessoalmente para ir em busca dos seus operários. Evidentemente, quer estabelecer uma relação pessoal com eles”. É nele que os operários fundamentam a sua esperança, pois, este dono “sai imediatamente de madrugada e depois, de três em três horas, volta a procurar trabalhadores para enviar à sua vinha. Seguindo este esquema, depois de sair às três horas da tarde, já não haveria razão para sair novamente, dado que o dia de trabalho terminava às seis horas. Pelo contrário, este dono incansável, que quer valorizar a vida de cada um a todo o custo, sai também às cinco horas. Os trabalhadores que permaneceram na praça do mercado provavelmente tinham perdido toda a esperança. Aquele dia tinha sido em vão. E, no entanto, alguém ainda acreditou neles. Que sentido tem chamar operários só para a última hora do dia de trabalho? Que sentido tem ir trabalhar apenas uma hora? Contudo, até quando nos parece que podemos fazer pouco na vida, vale sempre a pena. Há sempre a possibilidade de encontrar um sentido, pois Deus ama a nossa vida! Eis que a originalidade deste dono se vê também no fim do dia, na hora do pagamento. Com os primeiros trabalhadores, aqueles que vão para a vinha de madrugada, o dono tinha estabelecido um denário, que era o custo típico de um dia de trabalho. Para os outros, diz que lhes dará o que for justo. E é precisamente aqui que a parábola volta a provocar-nos: o que é justo? Para o dono da vinha, isto é, para Deus, é justo que cada um tenha o necessário para viver. Ele chamou pessoalmente os trabalhadores, conhece a sua dignidade e quer pagar-lhes com base nela. E dá a todos um denário. A história diz que os trabalhadores da primeira hora ficam desiludidos: não conseguem ver a beleza do gesto do dono, que não foi injusto, mas simplesmente generoso, não considerou apenas o mérito, mas também a necessidade. Deus quer dar a todos o seu Reino, ou seja, a vida plena, eterna e feliz. E é o que Jesus faz em relação a nós: não faz classificações, dá tudo de Si mesmo a quantos lhe abrem o coração! À luz desta parábola, o cristão de hoje poderia ser tentado a pensar: “Por que começar a trabalhar imediatamente? Se a remuneração é a mesma, por que trabalhar mais?”. Santo Agostinho respondia assim a estas dúvidas: “Por que razão, pois, demoras em seguir quem te chama, enquanto estás certo da remuneração, mas incerto quanto ao dia? Presta atenção a não tirares de ti, devido à tua hesitação, o que ele te oferecer em conformidade com a sua promessa” (Discurso 87, 6, 8).
E termina Leão XIV: “Gostaria de dizer, especialmente aos jovens, que não esperem, mas que respondam com entusiasmo ao Senhor que nos chama a trabalhar na sua vinha. Não demoreis, arregaçai as mangas, pois o Senhor é generoso e não ficareis desiludidos! Trabalhando na sua vinha, encontrareis a resposta àquela pergunta profunda que trazeis dentro de vós: qual é o sentido da minha vida? Caros irmãos e irmãs, não desanimemos! Até nos momentos obscuros da vida, quando o tempo passa sem nos dar as respostas que procuramos, peçamos ao Senhor que volte a sair e nos alcance onde estamos à sua espera. O Senhor é generoso e virá em breve!”
Antonino Dias
Portalegre-Castelo Branco, 06-06-2025