Ainda se sente e sentirá por esse mundo além aquele frenesim saudável da Jornada Mundial da Juventude 2023. Foi bonito e reconfortante ver e viver o surfar na onda de tantos jovens de numerosos países, raças e culturas. Celebrar com eles o encontro com Cristo Rei e com os outros, em verdadeira explosão de alegria e fé, foi um privilégio inesquecível. Foi o ponto mais alto da paz em movimento a semear esperança por este país fora e pelas ruas de Lisboa adentro. Envolveram-se crentes e não crentes deste reino de Portugal e dos Algarves, d’aquém e d’além-mar e arredores. E se os efeitos da efeméride continuam a ecoar pelos quatro cantos do mundo e no coração jovem de multidões, a coisa não vai parar, o entusiasmo persiste e fervilha, serena e saudavelmente.

Em 2025, temos o Jubileu dos jovens, em Roma, onde, cada pedra da rua em que tropecemos a doer e se levante a protestar, logo revela histórias da História cristã e do mundo. Em 2027, outra Jornada Mundial, desta vez em Seul, na Coreia do Sul, desejando eu que, por tabela, o saudável ruído desta paz em movimento, que sois vós os jovens, sacuda e sensibilize para a fraternidade universal os canhões perfilados da Coreia outra de outros jovens a viverem constitucionalmente prisioneiros da estreita ideologia da autossuficiência nacional.

Vamos ou não vamos, caros jovens? Claro que sim, nem que a vaca tussa e o boi espirre. Tantos já sonham nisso e o sonho é que comanda a vida, assim o disseram sábios portugueses, não sabendo eu se os sábios da Grécia já o haviam dito!… Vamos lá, jovens, toca a cevar, desde já, o porquito-peteiro e a atiçar o fogo da esperança na suave brisa do Espírito Santo, até porque, diz quem sabe, a juventude “é um tempo cheio de esperanças e sonhos, alimentados pelas realidades belas que enriquecem a nossa vida: o esplendor da criação, as relações com os nossos entes queridos e com os amigos, as experiências artísticas e culturais, os conhecimentos científicos e técnicos, as iniciativas que promovem a paz, a justiça e a fraternidade, e assim por diante”.

Até chegar cada um desses acontecimentos, não desistas do teu grupo, permanece atento aos desafios em curso. Não te isoles. Não te afastes da tua comunidade cristã, não batas a porta, não olhes com indiferença. Anima-te e anima os outros com iniciativas e processos de crescimento na cultura da fé. Todos precisamos de todos, sobretudo precisamos de ti, e olha que dos fracos não reza a história. O jovem Francisco, com 86 anos, já nos saiu a caminho, feliz e provocante, assim: “vós, jovens, sois a esperança jubilosa duma Igreja e duma humanidade sempre a caminho. Quero tomar-vos pela mão e, junto convosco, percorrer a senda da esperança. Quero falar convosco das nossas alegrias e esperanças, mas também das tristezas e angústias dos nossos corações e da humanidade que sofre. Nestes dois anos de preparação para o Jubileu, meditaremos, primeiro, sobre a expressão paulina “Alegres na esperança” (Rm 12, 12) e, depois, aprofundaremos a frase do profeta Isaías: “Aqueles que esperam no Senhor, caminham sem se cansar” (cf. Is 40, 31).

‘Alegres na esperança’ é uma exortação de São Paulo à comunidade de Roma, a viver debaixo de intensa perseguição. Esta alegria da esperança não é a alegria que o mundo oferece de mão beijada, tantas vezes fugaz e a desembocar na tristeza e frustração. Não é, diz o Papa, “otimismo fácil nem uma panaceia para simplórios”. Não é “a negação da dor e da morte”. Esta alegria na esperança “brota do mistério pascal de Cristo, da força da sua ressurreição. Não é fruto do esforço humano, do engenho ou da arte. É a alegria que deriva do encontro com Cristo”, de nos sabermos amados por Deus mesmo quando nos parece distante. Deus nunca nos deixa sozinhos e mantém a sua promessa: «Ainda que atravesse vales tenebrosos, de nenhum mal terei medo porque Tu estás comigo» (Sal 23, 4).

Esta esperança, que nos anima e dinamiza na alegria, alimenta-se com a oração e com as nossas opções diárias, opções concretas. E Francisco dá um exemplo aos jovens: “nas redes sociais, parece mais fácil compartilhar notícias más do que notícias de esperança. Assim deixo-vos uma proposta concreta: tentai compartilhar cada dia uma palavra de esperança. Tornai-vos semeadores de esperança na vida dos vossos amigos e de quantos vos rodeiam (…) Às vezes, à noite, saís com os vossos amigos e, se estiver escuro, tomais o smartphone e acendeis a lanterna para iluminar. Nos grandes concertos, milhares movem aquelas luzinhas modernas ao ritmo da música, criando um belo cenário. De noite, a luz faz-nos ver as coisas dum modo novo e, mesmo na escuridão, emerge uma dimensão de beleza. O mesmo se passa com a luz da esperança, que é Cristo Rei. Por Ele, pela sua ressurreição, é iluminada a nossa vida. Com Ele, vemos tudo sob uma nova luz” (…) Animado pela esperança divina, o cristão encontra-se repleto duma alegria diversa, que vem de dentro. Os desafios e as dificuldades existem e sempre existirão, mas se estivermos dotados duma esperança ‘cheia de fé’, enfrentá-los-emos sabendo que não têm a última palavra e nós próprios tornamo-nos uma pequena lanterna de esperança para os outros. Queridos jovens, não tenhais medo de partilhar com todos a esperança e a alegria de Cristo Ressuscitado! A centelha que se acendeu em vós, conservai-a, mas ao mesmo tempo comunicai-a: dar-vos-eis conta de que ela crescerá! A esperança cristã, não a podemos guardar para nós, como um belo sentimento, visto que se destina a todos. Aproximai-vos em particular dos vossos amigos que talvez aparentemente sorriam, mas por dentro choram, carentes de esperança. Não vos deixeis contagiar pela indiferença e pelo individualismo: permanecei abertos como canais por onde a esperança de Jesus possa fluir e difundir-se nos ambientes onde viveis”.

Francisco termina a sua Mensagem apontando-nos Maria como a mulher da esperança, a mãe da esperança. Permanecendo forte aos pés da cruz de Jesus, ela “preenche o silêncio do Sábado Santo com uma amorosa expetativa cheia de esperança, incutindo nos discípulos a certeza de que Jesus venceria a morte e que o mal não seria a última palavra”.

Força, jovens, sempre alegres a semear a esperança!

Antonino Dias

Portalegre-Castelo Branco, 24-11-2023.

 

 

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