O morto sentou-se e começou a falar!… Não foi na web summit, não. Foi em Naim, há mais de dois mil anos e garantiu um futuro cada vez melhor, com valores e sentido! Sim, sim, o morto sentou-se, esfregou os olhos e começou a falar, só isso! Bué da fixe, diria a garotada extasiada e de olhos fixos em Jesus sorridente!… Ao ver o susto, e pelas notícias que nos chegaram, de facto, a ninguém deu o treco nem espinoteou a dar à perna! Se tal tivesse acontecido, com certeza que a cmtv lá do tempo teria feito eco, e mais eco, e mais eco, e muito mais eco ainda, sim, muito eco pelo dia fora e noite adentro. Admirados, boquiabertos e com medo, sim, lá isso parece que todos ficaram e não era para menos!… Com grande pena nossa, porém, não sabemos o que é que o morto-vivo teria dito. Supomos que teria ficado muito feliz e a proclamar a boa nova. O que sabemos é que a pobre mãe, viúva, a comunidade que se associara com ares de vencida e triste, explodiu de alegria. Em todos aflorou um sentimento de admiração e de gratidão que logo os fez correr por toda a parte a levar a notícia do que tinha acontecido de tão belo e extraordinário. O Deus da vida veio ao encontro dos homens, manifestou-Se através de Jesus, da Sua palavra, dos seus gestos e sinais, revelando o verdadeiro sentido da vida e oferecendo a todos o triunfo da vida sobre a morte, como um dom que Ele nos deu e nos encarregou de anunciar por toda a parte, sem choro nem lamentações, mas com alegria e esperança, confiando n’Ele (cf. Lc 7,11-19).

A diminuição de vocações ao Ministério Ordenado e à Vida Consagrada não pode fazer das nossas comunidades cristãs uma espécie de viúvas tristes e lacrimosas a caminho do “cemitério”, do fim, chorando sem esperança, pessimistas, derrotadas, sem confiança n’Aquele que se fez encontrado, as amou até ao fim e as enviou em Seu nome… Jesus veio e continua a vir ao nosso encontro, a cruzar-se connosco nos caminhos da vida, a caminhar no meio de nós, a olhar-nos olhos nos olhos, com serenidade, sem pressa nem enfado e a fazer com que ponhamos fim a tais pessimismos e tristeza e a que nos deixemos contagiar pelos que acreditam no Deus da Vida e na vida com sentido. Nenhuma comunidade cristã que se preze pode deixar de obedecer ao Senhor que continua a vir ao seu encontro e a pedir-lhe que se faça ao largo e lance as redes, com confiança (cf. Lc 5,4-5). Ninguém deve pensar que conhece bem o terreno e que já fez muito sem qualquer resultado. Ninguém pode cruzar os braços e deixar de propor, com alegria e esperança, o ministério ordenado ou a vida consagrada, autoconvencido de que os jovens não correspondem e as famílias não ajudam. Pedir, individual e comunitariamente, ao Senhor da messe que envie operários para a Sua messe, contactar, propor, provocar, acompanhar, partilhar e ajudar no discernimento com total respeito pela liberdade de cada um é missão da comunidade, através do pároco, das famílias, dos agentes da pastoral, de todos, sem proselitismos, respeitando a gradualidade própria de todo esse processo…

Com alegria e confiança, os jovens sonham, olham para as suas capacidades e interrogam-se sobre o seu futuro: Que é que eu hei de fazer para melhor servir e ser feliz? E Jesus continua a tocar no ombro de todos, mas de cada jovem em particular: Jovem, se queres ser feliz, “Eu te ordeno, levanta-te!” A comunidade precisa de ti, anda daí, sê jovem. Há “em ti muitas qualidades, inclinações, dons e carismas que não são para ti, mas para os outros” (CV286). Na resposta a dar, seja ela qual for, há um dado a garantir a seriedade da mesma: é o diálogo sincero entre o amor de Deus que chama e a liberdade de quem responde a Deus também com amor. Sim, são dois aspetos indissociáveis: o dom gratuito de Deus que chama e a liberdade responsável de quem é chamado (cf. Pdv36).

Na Semana dos Seminários que tem como lema

“Cristo não pensa apenas naquilo que tu és mas naquilo que poderás chegar a ser”,

não te esqueças, caro jovem, ser padre ou abraçar a vida consagrada pode ser o teu caminho. Se no silêncio interior perceberes o olhar de Jesus e escutares o Seu chamamento, não faças como o jovem do Evangelho que aprisionado pelas ilusões da sua vida voltou as costas, triste (Mt 19, 16-22). Agradece e arrisca, sente a alegria do chamamento para, assim, servires a Igreja e o mundo.

Sem papas na língua e com um certo humor, mas seriamente, o Papa Francisco não desiste de apelar: “Jovens, não renuncieis ao melhor da vossa juventude, não observeis a vida de uma varanda. Não confundais a felicidade com um sofá nem passeis toda a vossa vida diante de um ecrã. Tampouco vos deveis converter no triste espetáculo de um veículo abandonado. Não sejais automóveis estacionados, pelo contrário, deixai brotar os sonhos e tomai decisões. Arriscai, mesmo que vos equivoqueis. Não sobrevivais com a alma anestesiada nem olheis o mundo como se fosseis turistas. Fazei barulho! Deitai fora os medos que vos paralisam, para que não vos convertais em jovens mumificados. Vivei! Entregai-vos ao melhor da vida! Abri a porta da gaiola e saí a voar! Por favor, não vos aposenteis antes de tempo” (CV143).

 

Antonino Dias

Portalegre-Castelo Branco, 08-11-2019.

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P.S. Para além das iniciativas que haverá nas paróquias ao longo da semana, na nossa Diocese está previsto um encontro diocesano na Seminário de Portalegre, de tarde, das 15 às 21 horas, no dia 16, sábado, para rapazes e raparigas, com vigília aberta à comunidade.

 

 

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