QUARESMA – 2021


 

Santo António, num dos seus sermões (Sermões Dominicais e Festivos II) para definir caridade utilizou a expressão “a caridade é a alma da fé, torna-a viva; sem o amor, a fé morre”. Esta expressão sugere que a caridade – o amor, é a alma e a força da missão evangelizadora da Igreja, e a forma mais sublime e credível de comunicar o Evangelho.

A Pandemia que nos assola, o “COVID-19”, veio trazer à nossa consciência a fragilidade e o sofrimento humano que existe tanto na sociedade e na família, como no íntimo de cada pessoa. Fragilidades e necessidades que reclamam atenção, ajuda e apoio. Esta Pandemia veio, também, acentuar as desigualdades e demonstrar que é preciso não perder o sentido do outro, devolver-lhe a esperança e contribuir para minorar o seu sofrimento. É, por isso, uma oportunidade para nos tornarmos mais capazes de cuidar dos mais frágeis, mais sensíveis ao sofrimento, menos fechados em nós. 

Segundo o Padre José Manuel Pereira de Almeida, Vice-reitor da Universidade católica, Diretor do Secretariado Nacional da Pastoral Social e Coordenador Nacional da Pastoral 

da Saúde, 

 

“…seria uma catástrofe moral, se cada um só pensasse em si, julgando que, fechando-se em si, se salvava sozinho”.

 

 

 

A crise económica que lhe está subjacente, já antes vivida e agora agravada, não explica por si mesma o vasto conjunto de situações de fragilidade, de precariedade e de dor, tantas vezes escondidas e camufladas que agudizam a pobreza nas suas diversas formas, mas trouxe à evidência, tudo aquilo que podíamos ter feito mais e melhor pelos pobres e pela pobreza. Sabemos que a pobreza mais profunda, é a solidão que leva ao desespero, à ausência de afeto, de amor que, muitas vezes, pode conduzir ao desejo da morte e até à própria morte.

No nosso tempo, a indiferença, a cultura do descarte, como refere o Papa Francisco, fazem-nos compreender o apelo feito por S. João Paulo II, ao terminar das celebrações do Jubileu do ano 2000, a “uma nova fantasia da caridade”, que significa a necessidade de uma caridade mais criativa face às novas interpelações, o que nos leva a questionar se ainda faz sentido falar de caridade, hoje, ou se não seria mais apropriado falar de justiça. Sabemos que não há caridade sem justiça porque ambas são indissociáveis, como afirma Santo Agostinho e Bento XVI, na Carta Encíclica “Caritas in Veritate”, n.º 6

 

“A caridade supera a justiça, porque amar é dar, oferecer ao outro do que é «meu»; mas nunca existe sem a justiça, que induz a dar ao outro o que é «dele», o que lhe pertence em razão do seu ser e do seu agir. Não posso «dar» ao outro do que é meu, sem antes lhe ter dado aquilo que lhe compete por justiça”.

Assim, a caridade, o amor ao próximo, não se reduz a dar esmola ou a prestar uma ajuda ou assistência. É muito mais do que isso. A caridade é relação, doação e serviço de amor concreto a todo o ser humano necessitado de ajuda. É dom de si na partilha e no serviço. Manifesta-se na capacidade de pensar e de ser solidário com aqueles que sofrem, de modo a que o gesto de ajuda faça sentido, “não como esmola humilhante, mas como partilha fraterna”, segundo S. João Paulo II.

Este dom deve ser humilde, liberto de qualquer sentido de superioridade, porque a sua força vem de Deus. Não se pode viver a Caridade sem alimentar a sua chama interior na Palavra, e na Oração. Este é o tripé no qual assenta a missão da Igreja. Contudo, a Caridade, virtude teologal, é muitas vezes menorizada e deixada a outros.

A dedicação e o apoio dado à pessoa do irmão necessitado são um aspeto irrenunciável da caridade, particularmente devido aos mais vulneráveis e mais pobres, aos que são abandonados até ao limite da resistência, porque não conseguem fazer-se ouvir. “O amor preferencial pelos pobres é uma dimensão necessária do ser cristão e do serviço do Evangelho (João Paulo II – Ecclesia EucharistiaE de 2003, n. 86).

Para sintetizar refiro um excerto de um texto muito bonito que o Papa Bento XVI, proferiu durante a oração do “Ângelus”, em janeiro de 2010: “A caridade é o distintivo do cristão. É a síntese de toda a sua vida: do que crê e do que faz. É a luz que dá bondade e beleza à existência de cada homem. É o comportamento de quem responde ao amor de Deus e faz da própria vida um dom de si a Deus e ao próximo. É o caminho da santidade. A vida dos santos, de cada santo, é um hino à caridade, um cântico vivo ao amor de Deus”!

Deus ama-nos e ama-nos de tal modo que nos enviou o seu próprio Filho, Jesus

Jesus Cristo, por amor à humanidade, entregou-se até à morte e morte de cruz. Também por amor, nos deixou um Mandamento Novo, o Mandamento do Amor, pelo qual nos ensina que devemos amar a Deus e amar os Irmãos, acima de todas as coisas. 

É, pois, no amor, na caridade, que nos tornamos Filhos de Deus e seus herdeiros. Só no Amor encontraremos o verdadeiro caminho.

 

 

Portalegre, 19 de fevereiro de 2021

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