Vamos começar o mês de outubro, o mês missionário. Acolhendo a proposta da Congregação para a Evangelização dos Povos, e a pretexto dos cem anos da Carta Apostólica “Maximum illud” de 30 de novembro de 1919, o Papa Francisco proclamou o mês de outubro de 2019 como Mês Missionário Extraordinário. Fazer despertar uma maior consciência da missão e dar maior impulso à paixão missionária na vida pastoral são objetivos a fomentar. A Conferência Episcopal Portuguesa, acolhendo com alegria a proposta do Papa Francisco, decidiu viver este mês missionário extraordinário como etapa final de um ano missionário, de outubro de 2018 a outubro de 2019. Reuniram-se documentos, deram-se pistas de ação e cada diocese, cada arciprestado, cada paróquia, cada família, cada movimento e serviço de apostolado foi assumindo o desafio como entendeu e pôde, com mais ou menos sucesso, com certeza. Dentro da programação nacional, no dia 20 deste mês de outubro, Dia Mundial das Missões, terá lugar a Peregrinação Nacional a Fátima, à qual se associará também a Peregrinação Nacional do Movimento do Apostolado da Oração, em comemoração dos seus 175 anos de existência. Nesse mesmo dia, de tarde, os Bispos Portugueses que puderem estar, bem como autoridades civis e o Povo de Deus, irão a Cernache do Bonjardim, na Sertã, terra desta Diocese de Portalegre-Castelo Branco, prestar homenagem à missionação portuguesa. O monumento evocativo nascerá em frente ao Seminário das Missões em Cernache do Bonjardim. Será uma estátua, prestando homenagem a D. António Barroso que foi bispo na África, na Índia e no Porto e está a caminho dos altares, onde também constará o nome dos outros 319 padres que, como ele, se formaram neste Seminário e se espalharam pelo mundo, tendo também presente todos os missionários portugueses que, partindo deste país, se lançaram nesta aventura de ir anunciar o Evangelho. Este Seminário, desde que foi ordenada a sua construção por Decreto de 10 de março de 1791, para prover os padres das igrejas do Priorado do Crato a que Cernache do Bonjardim pertencia, teve uma história atribulada na qual muitos se acharam no direito de lá meter o bedelho sem terem sido chamados! Ai se aquelas paredes falassem!…

Mas voltando ao mês de outubro, sabemos que ele começa com a memória litúrgica de Santa Teresinha do Menino Jesus, Santa Terezinha de Lisieux, que sem nunca ter saído do convento, em 1927 foi declarada Patrona Universal das Missões Católicas. E São João Paulo II, em 1997, declarou-a Doutora da Igreja. Para ela, ser missionário não era uma questão geográfica, mas uma questão de amor, e este amor tem um rosto e um nome, é Jesus: "Jesus, a minha alegria é amar-te", é contemplar o outro na pessoa de Jesus. Por isso, dizia: “No coração da Igreja, serei o amor. Escreveu três manuscritos que, publicados em 1898 com o título de História de uma Alma, se tornaram um dos maiores best sellers da história, são a sua autobiografia, um manual de santidade. Aí, ela ensina que o segredo da santidade não está em fazer coisas grandes e espetaculares. Está em fazer com amor as mais pequeninas coisas de cada dia: “Pegar um alfinete caído no chão, com amor, produz fruto de santidade. Não querendo ser santa apenas pela metade e considerando que a vida é apenas um sonho do qual brevemente acordaremos, Terezinha viveu apenas 24 anos, escolhendo tudo, o amor. Seus pais, Louis Martin e Zélia Guerin, foram canonizados em 18 de outubro de 2015, tornando-se o primeiro casal a serem ambos declarados santos na mesma data e celebração. A sua festa litúrgica celebra-se em 12 de julho, dia de aniversário do seu matrimónio.

Para melhor percebermos a vocação de Santa Terezinha, transcrevo um pouco da sua autobiografia onde nos relata o seu sonho e como conseguiu concretizá-lo:

“Não obstante a minha pequenez, quereria iluminar as almas como os Profetas, os Doutores, sentia a vocação de ser Apóstolo…Queria ser missionário, não apenas durante alguns anos mas queria tê-lo sido desde o princípio do mundo e continuar até à consumação dos séculos. Mas acima de tudo, ó meu amado Salvador, quereria derramar o sangue por Vós até à última gota.

Porque durante a oração estes desejos me faziam sofrer um autêntico martírio, abri as epístolas de São Paulo a fim de encontrar uma resposta. Casualmente fixei-me nos capítulos XII e XIII da primeira epístola aos Coríntios; e li no primeiro que nem todos podem ser ao mesmo tempo de Apóstolos, Profetas, Doutores, etc… que a Igreja é formada por membros diferentes e que os olhos não podem ao mesmo tempo ser as mãos. A resposta era clara, mas não satisfazia completamente os meus desejos e não me trazia a paz.

Continuei a ler e encontrei esta frase que me confortou profundamente: “Procurai com ardor os dons mais perfeitos; eu vou mostrar-vos um caminho mais excelente”. E o Apóstolo explica como todos os dons mais perfeitos não são nada sem o amor e que a caridade é o caminho mais excelente que nos leva com segurança até Deus. Finalmente tinha encontrado a tranquilidade.

Ao considerar o Corpo Místico da Igreja, não conseguiria reconhecer-me em nenhum dos membros descritos por São Paulo; melhor, queria identificar-me com todos eles. A caridade ofereceu-me a chave da minha vocação. Compreendi que, se a Igreja apresenta um corpo formado por membros diferentes, não lhe falta o mais necessário e mais nobre de todos; compreendi que a Igreja tem coração, um coração ardente de amor; compreendi que se o amor viesse a extinguir-se, nem os Apóstolos continuariam a anunciar o Evangelho nem os mártires a derramar o seu sangue; compreendi que o amor encerra em si todas as vocações, que o amor é tudo e que abrange todos os tempos e lugares, numa palavra, que o amor é eterno.

Então, com a maior alegria da minha alma arrebatada, exclamei: Ó Jesus, meu amor! Encontrei finalmente a minha vocação. A minha vocação é o amor. Sim, encontrei o meu lugar na Igreja, e este lugar, ó meu Deus, fostes Vós que mo destes: no coração da Igreja, minha Mãe, eu serei o amor; com o amor serei tudo; e assim será realizado o meu sonho”.

Ser discípulo é, de facto, levar aos outros o amor de Jesus, com fervor, com alegria e naturalidade. Como afirmou Bento XVI, “os tempos em que vivemos exigem um novo vigor missionário dos cristãos, chamados a formar um laicado maduro, identificado com a Igreja e solidário com a complexa transformação do mundo”.

Antonino Dias

Portalegre-Castelo Branco, 27-09-2019

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