Em outubro de 2006, falecia Carlo Acutis, um jovenzito que soube marcar a diferença. Embora tivesse nascido, em 1991, em Londres, foi Milão que o viu crescer. Cheio de vida e alegre como todos os jovens, a todos cativava pela sua serenidade e entusiasmo contagiante. Tornou-se popular e muito apreciado. A sua história despertou profunda admiração e comoveu muitíssima gente. Dotado de uma inteligência acima da média e apaixonado pela vida, entendera bem o chamamento à santidade e quanto bem podia fazer pelos outros. Educado cristãmente e exercitado nas virtudes cristãs, a Eucaristia era para ele um bem precioso, indispensável, a autoestrada para o céu. São Francisco era o seu grande santo de devoção. Gostava de Assis, esteve em Fátima, tinha devoção ao Anjo da Guarda e à oração do terço diário, frequentava os sacramentos. Na escola onde iniciou os estudos, desenvolveu a sua paixão pelos computadores. Criou um site dedicado aos milagres eucarísticos e à vida dos santos, procurando ajudar aqueles que desejavam marcar a diferença. Das Filipinas a Cabo Verde, do Brasil à China, em todo o mundo está presente esta sua herança espiritual. 

Tal como Chiara Luce Badano, da qual falei na semana passada, Carlo Acutis é outro para além dos doze jovens que o Papa Francisco, no documento conclusivo do Sínodo sobre os Jovens, apresenta como um dos santos que, não conhecendo a idade adulta, deixou o testemunho de uma “outra forma de viver a juventude”. Fez “brilhar os traços da idade juvenil em toda a sua beleza”. Tornou-se profeta da mudança. O Papa Francisco ao falar aos jovens do mundo inteiro, aos jovens que tanto apreciam a web e as redes sociais e vivem mergulhados numa cultura cada vez mais digitalizada, nunca deixa de alertar. Ao mesmo tempo que realça, com esperança, a enorme capacidade dos jovens para colocarem em marcha uma Igreja em saída, uma Igreja em busca da renovação e da sua eterna juventude, ele escreve assim: “é verdade que o mundo digital pode expor-te ao risco de te fechares em ti mesmo, de isolamento ou do prazer vazio. Mas não esqueças a existência de jovens que, também nestas áreas, são criativos e às vezes geniais. É o caso do jovem Venerável Carlo Acutis. Ele sabia muito bem que estes mecanismos da comunicação, da publicidade e das redes sociais podem ser utilizados para nos tornar sujeitos adormecidos, dependentes do consumo e das novidades que podemos comprar, obcecados pelo tempo livre, fechados na negatividade. Mas ele soube usar as novas técnicas de comunicação para transmitir o Evangelho, para comunicar valores e beleza. Não caiu na armadilha. Via que muitos jovens, embora parecendo diferentes, na verdade acabam por ser iguais aos outros, correndo atrás do que os poderosos lhes impõem através dos mecanismos de consumo e aturdimento. Assim, não deixam brotar os dons que o Senhor lhes deu, não colocam à disposição deste mundo as capacidades tão pessoais e únicas que Deus semeou em cada um. Na verdade, «todos nascem – dizia Carlos – como originais, mas muitos morrem como fotocópias». Não deixes que isto te aconteça! Não deixes que te roubem a esperança e a alegria, que te narcotizem para te usar como escravo dos seus interesses. Ousa ser mais, porque o teu ser é mais importante do que qualquer outra coisa; não precisas de ter nem de parecer. Podes chegar a ser aquilo que Deus, teu Criador, sabe que tu és, se reconheceres o muito a que estás chamado. Invoca o Espírito Santo e caminha, confiante, para a grande meta: a santidade. Assim, não serás uma fotocópia; serás plenamente tu mesmo (CV104-107). 
Com apenas 15 anos, uma grave doença, uma leucemia fulminante de tipo m3, bateu à porta de Carlo Acutis. Entrou enraivecida em sua casa e não houve medicina que a esconjurasse. Em apenas um mês, Carlo Acutis partia para junto do Senhor, a quem amava e anunciava. Se seus pais viviam com dor estes momentos, ele manifestava-se preocupado com isso, agradecia ao pessoal de saúde, vivia o dia a dia com intensidade, fixado no essencial: “Estar sempre junto com Jesus: este é o meu plano de vida”. Esperando a partida para junto de Deus, ofereceu todos os seus sofrimentos ao Senhor pela Igreja e pelo Papa.
Pela sua grande devoção a São Francisco, foi sepultado em Assis. No enterro, havia migrantes, alguns muçulmanos e hinduístas que o conheciam pelos seus passeios pelo bairro. Alguém conta que ele levava comida a um sem abrigo, deu um saco de dormir a um idoso que dormia sobre papelão, doava as suas mesadas para os frades capuchinhos. Era austero com ele próprio, como conta a sua mãe: “Uma vez, ele não gostou nem um pouco quando eu comprei um par de sapatos que ele achou supérfluos. Ele treinava a força de vontade. E dizia que ‘o problema é motivar a vontade. A única coisa que nós temos que pedir a Deus na oração é a vontade de ser santos’”. 
Um amigo confessou a sua aproximação à fé devido ao testemunho de Carlo. A postuladora para a causa dos Santos da Arquidiocese de Milão, afirmou que a fé de Carlo Acutis era “singular”: “levava-o a ser sempre sincero consigo mesmo e com os outros (…) era sensível aos problemas e às situações dos seus amigos, dos companheiros, das pessoas que viviam perto dele e de quem o encontrava dia a dia”. Declarada a sua venerabilidade, está em curso a causa da sua beatificação.
A Sagrada Escritura refere que “até os jovens se cansam e afadigam; até os rapazes tropeçam e caem, mas os que põem a sua esperança em Deus renovam as suas forças, abrem asas como as águias, correm e não se fatigam, caminham e não se cansam” (Is 40, 30-31).

Antonino Dias 
Portalegre-castelo Branco, 27-03-2020.

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