Há notícias que correm céleres e são reiteradas.

Bento XVI faleceu!

Que descanse em paz.

Mesmo que seja a lei da vida, é triste notícia para a Igreja e para o mundo, para crentes e não crentes, mas feliz para quem, depois de missão cumprida, parte ao encontro d'Aquele que sempre serviu com alegria e elevação.

A esta hora do dia do seu falecimento, já muita coisa se tem dito sobre ele, sobre a sua capacidade intelectual e cultural, sobre a sua grande fé e amor à Igreja. Muito mais se há de dizer, não só agora, também pelo tempo fora, o seu testemunho e pensamento perdurarão.

Em serviço discreto e competente, sempre numa atitude humilde, gastou a sua vida ao serviço da cultura da fé e da Igreja, unindo fé e razão, unindo esperança e caridade na verdade, fazendo pontes, provocando para uma Igreja intelectualmente habitável. Uma fé sempre em diálogo com a razão, complementares, uma razão aberta à fé, sem incompatibilidades. Não tinha medo “do confronto com ideias e posições diversas, olhava com lealdade e clarividência às grandes interrogações, ao ofuscamento da presença de Deus diante do horizonte da humanidade contemporânea, às perguntas sobre o futuro da Igreja, em particular no seu país e na Europa. E procurava encarar os problemas com lealdade, sem os evitar, por mais dramáticos que fossem; mas a sua fé e inteligência permitiam-lhe encontrar sempre uma perspetiva de esperança”.

Cooperadores da verdade, era o seu lema episcopal.

Professor de renome, influente no Concílio Vaticano II, colaborador próximo de São João Paulo II, assumiu, ao seu jeito, num estilo muito diferente do seu antecessor, o pontificado. Eram tempos de urgentes e necessárias reformas, algumas das quais iniciou.

O seu grande amor à Igreja, porém, e a sua crescente debilidade, faziam-no viver com o sentimento de que não estaria a servir a Igreja tanto quanto entendia que ela merecia e precisava. Por isso, acreditamos que com a inspiração do divino Espírito Santo que é quem conduz a Igreja, Bento XVI assume, surpreendendo a Igreja e o mundo, a firme determinação de resignar do papado, coisa que só acontecera em 1415. Mas confessou: “não deixo a cruz, servirei a Igreja em oração”.

O P. Federico Lombardi, porta-voz que foi de Bento XVI, lembrou a última carta de Bento de XVI, escrita em 6 de fevereiro passado, falando das “realidades últimas” sobre as quais havia escrito profundamente na sua encíclica sobre esperança. Nessa carta, o Papa Bento diz assim:

“Muito em breve eu me encontrarei diante do último juiz da minha vida. Mesmo se, olhando para trás, para a minha longa vida, eu possa ter tanto motivo de espanto e de medo, estou, porém, com a alma feliz porque confio firmemente que o Senhor não é apenas o juiz justo, mas, ao mesmo tempo, o amigo e o irmão que já sofreu, ele mesmo, as minhas insuficiências e, por esse motivo, enquanto juiz, é também o meu advogado. Tendo em vista a hora do juízo, a graça de ser cristão torna-se mais clara para mim. O ser cristão dá-me conhecimento. Além disso, também me dá amizade com o juiz da minha vida e permite-me atravessar, com confiança, a porta escura da morte. A propósito, vem-me continuamente ao pensamento aquilo que João conta no início do Apocalipse: ele vê o Filho do homem em toda a sua grandeza e cai como morto aos seus pés. Mas Ele, colocando sobre ele a mão direita, diz-lhe: ‘Não temas! Sou eu…’ (cfr Ap 1,12-17)”.

Para além do que produziu antes de ser Papa e da panóplia de intervenções que o exercício do ministério petrino lhe exigiu em audiências, discursos, cartas, constituições e cartas apostólicas, homilias, mensagens, etc., deixou-nos a trilogia sobre Cristo e três encíclicas marcantes: Deus é Amor, Salvos na Esperança e Caridade na Verdade; quatro Exortações Apostólicas pós-sinodais: Sacramento da Caridade, A Palavra do Senhor, A Igreja no Médio Oriente, A Igreja em África.

Usando as palavras do Papa Francisco ditas neste dia de hoje,“Com comoção recordamos a sua pessoa tão nobre, tão amável. E no coração sentimos tanta gratidão: gratidão a Deus por tê-lo dado à Igreja e ao mundo; gratidão a ele, por todo o bem que fez e, sobretudo, por seu testemunho de fé e oração, especialmente nestes últimos anos de sua vida retirada. Só Deus conhece o valor e a força da sua intercessão, dos seus sacrifícios oferecidos pelo bem da Igreja.”

Que descanse em paz!

Antonino Dias

Portalegre-Castelo Branco, 31-12-2022.

 

Partilhar:
Comments are closed.