Era um jovem perspicaz, atento e inspirador, chamava-se Vicente de Paulo. Após 441 anos continua a inspirar crianças, jovens, adultos e muita gente de boa vontade. Porque se celebra a 27 de setembro, sirvo-me de algumas biografias para recordar um pouco da sua vida. Filho de camponeses, fez estudos superiores graças a benfeitores. Aos 19 anos é ordenado sacerdote. Perde o pai, as dificuldades económicas da família agravam-se, abre uma escola que não resulta, fica endividado. Feito prisioneiro de piratas turcos numa viagem, é vendido a três donos, sucessivamente, dois anos depois consegue fugir. Vai a Roma, volta a Paris, é admitido entre os capelães da corte, uma corte sovina para com ele. Um pouco mais tarde, é nomeado pároco nos arredores de Paris. Sensibilizado pela vida de oração de alguns paroquianos, Vicente envolve-se no serviço pastoral e socio-caritativo e aceita ser precetor do filho mais velho do governador-geral das Galeras de França. Vendo que os camponeses doentes eram deixados ao abandono e na miséria e os pobres esquecidos, envolve os paroquianos no cuidado para com eles. No entanto, se os pobres terão, de imediato, tudo quanto lhes é preciso, Vicente sabe que logo serão novamente necessitados. Com pessoas comprometidas neste serviço aos pobres da paróquia, cria a primeira Associação cujos membros tomam o nome de “Servos dos pobres”. Convidado a ser capelão dos cerca de oito mil trabalhadores das propriedades da família Gondi, onde já tinha estado, promove a cultura da fé e funda também os “Servos dos Pobres” em várias povoações. Porque a mentalidade da época não aceita que os homens trabalhem junto com as mulheres, decide ocupar-se apenas das Associações femininas. As masculinas só iriam ser retomadas em 1833, em Paris, por um grupo de sete jovens universitários entre os quais estava Frederico Ozanam, dando origem às “Conferências de S. Vicente de Paulo”.

Entretanto, estuda Direito Canónico, em Paris. Tanto ou mais que nos campos, depara-se com as impensáveis condições de vida da sociedade parisiense. Uns, a quem nada faltava, até esperavam vir a gozar da bem-aventurança eterna. Outros, que nada tinham, a nada aspiravam devido à miséria e ao desprezo a que eram votados. Vicente funda também aí as associações de “Caridade”, mas dando às “Irmãs dos Pobres” o nome de “Damas da Caridade”. Nome pomposo para que as mulheres da nobreza se agregassem à Associação e a causa pudesse ter mais ajuda económica. Dentro deste espírito, destaca-se a instituição “Hotel Dieu”. Ajudava crianças abandonadas, condenados, escravos e populações esfomeadas devido à guerra.

Estimulado no seu trabalho, Vicente de Paulo associa alguns sacerdotes e começa, com considerável entusiasmo e êxito, a evangelizar na cidade e povoações. Outros sacerdotes aderem à iniciativa, pessoas colaboram partilhando bens, o arcebispo de Paris dá o seu apoio a todo este trabalho e entrega a Vicente e aos seus missionários uma casa num antigo colégio. A nova comunidade devia fazer vida comum, renunciar a encargos eclesiásticos, pregar nas povoações do campo, ocupar-se da assistência espiritual aos reclusos, promover a cultura católica nas paróquias. Nasce assim a “Congregação da Missão”. Entretanto, os missionários foram para o priorado de S. Lázaro, tendo tomado o nome de “Lazaristas”. Tornam-se os mais prestigiados formadores dos futuros sacerdotes, muitos seminários diocesanos ficam sob a sua responsabilidade, aceitam Missões no exterior, os seus Exercícios Espirituais são abertos a todos os eclesiásticos e leigos que desejem fazer um retiro anual, assim nasce o desejo de se reunirem semanalmente, dando origem às “Conferências de Terça-feira”.

A pregação nas povoações suscitou a vocação ao apostolado ativo, primeiro nas jovens dos campos, depois nas das cidades, dedicando-se aos necessitados e vivendo a consagração total. Porque as “Damas da Caridade” não desciam a todos os estratos sociais, Vicente de Paulo confia a formação do primeiro grupo de jovens a Luísa de Marillac, dando origem à Congregação das “Filhas da Caridade”: prestava assistência aos doentes nos hospitais, às crianças abandonadas, aos órfãos, aos reclusos, aos inválidos, a toda a espécie de miséria humana.

Vicente de Paulo veio a fazer parte do Conselho de Consciência de Ana de Áustria, que tinha como função escolher os bispos e conceder benefícios eclesiásticos. O cardeal Richilieu e o próprio rei Luís XIII pedem-lhe uma lista de nomes dignos de receberem a ordenação episcopal e pedem que ele esteja junto no seu leito da morte. Vicente opôs-se às escolhas políticas, privilegiava as qualidades morais e religiosas das pessoas, bem como se opôs a certas opções de política interna, especialmente quando Mazzarino tenta submeter à fome a revoltada cidade de Paris. Ele reage e age no terreno, chegando a pedir o afastamento de Mazzarino, mas logo é ele definitivamente afastado do Conselho de Consciência. Ana de Áustria, porém, concede-lhe o encargo de organizar, à escala nacional, a ajuda aos pobres, tendo-lhe passado pelas mãos mais dinheiro do que pelas do Ministro das Finanças, diz-se.

Esta Diocese de Portalegre-Castelo Branco tem usufruído do trabalho pastoral dos Padres da Congregação da Missão e das Irmãs Filhas da Caridade. Tem Conferências Vicentinas e alguns grupos da Juventude Mariana Vicentina. O Bispo emérito desta Diocese, Sr. Dom Augusto César, agora a residir em Fátima, foi Sacerdote da Congregação da Missão, dos Padres Vicentinos.

Antonino Dias

Portalegre-Castelo Branco, 23-09-2022.

 

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