Apesar de existir ainda muita desigualdade e muitos outros modos de ferir a sua dignidade, a mulher encontra-se hoje nos mais elevados cargos públicos e nos mais importantes lugares de decisão. Desde o mundo do trabalho ao da vida social, desde a cultura à ciência e às artes, da educação ao desporto, da política à economia, da vida eclesial à reflexão teológica, nada lhes é estranho. Alegramo-nos com elas! Mas também, com elas, reconhecemos que a sua preciosa presença na família é cada vez menor. A inserção no mercado de trabalho, a valorização da sua carreira e o sucesso profissional, se têm aspetos positivamente relevantes, terão este contra: o tempo não chega, o trabalho cansa, os meios de transporte fazem aumentar a fadiga diária, a disposição fraqueja, tantas razões a complicar ou a fazer delegar esta dimensão vocacional da mulher. Mesmo assim, elas esticam-se e desdobram-se em tarefas, com muito esforço, com muita correria e muita ginástica de vida, ainda que essa presença seja igualmente partilhada com o marido, quando é… 

De facto, só uma sociedade bem estruturada e organizada, que, de todo, não é a nossa, poderia permitir que cada mulher pudesse realizar-se no desempenho da sua competência e responsabilidade profissional sem ter de prejudicar ou abandonar a sua insubstituível e muito especial presença na família e para a família. Se essa dimensão social fosse mais e melhor implementada pelos poderes públicos, a sociedade só teria a ganhar, a mulher e a família beneficiariam, os filhos saltitariam de alegria e o seu crescimento seria muito mais saudável e harmonioso. Quanto mais estável for a família, tanto mais garantida e respeitada estará a situação da mulher bem como a sua autoridade e liberdade, a sua vida matrimonial e a sua maternidade, o pleno desenvolvimento da sua personalidade. Até o seu emprego seria melhor vivido, seria um tempo mais feliz e um local de plena realização. 
Estou com quem pensa e defende que o primeiro direito da mulher é ser verdadeiramente mulher, é ser respeitada na sua dignidade e vocação, em igualdade de género, de salário e de oportunidades. Nem a mulher nem o homem, nenhum deles, é superior ou mais digno que o outro. Também não há igualdade absoluta entre homem e mulher. Têm natureza idêntica mas especificidades ou caraterísticas próprias. São ambos necessários para a plenitude da pessoa e há entre eles “uma verdadeira reciprocidade na equivalência e na diferença”. São duas formas distintas pelas quais a humanidade cresce e se enriquece. 
No entanto, há quem, para libertar a mulher de situações tidas como injustas, deite mão de “uma presumida liberdade sem limites”, ou de um certo “igualitarismo radical”, como se tais modos de decretar e impor fossem capazes de modificar a natureza das coisas ou de alterar aquilo que o próprio senso comum evidencia. A ideologia do género é uma dessas ferramentas. Muda e desconstrói a linguagem, os laços familiares, a sexualidade, a cultura, a educação e os valores, de forma dinâmica e silenciosa, sem fazer barulho, mas a trilhar caminho por tudo quanto é sítio, a começar pelas escolas, universidades e outras instâncias criadoras de opinião e mentalidade. Alguém a classifica como uma “metástase do marxismo”, sendo a família tradicional, e quem a defende, o principal inimigo a exterminar. Por sua vez, a dedicada engenharia social, as elites de serviço e os parlamentos de turno, fazem coro e dão-lhe força, e a legislação, sob o falso pretexto de um grande rasgo civilizacional, lá vai sendo cozinhada por entre os aplausos de quem se sente dono e ao leme do barco, e o encolher de ombros de quem, subserviente e sem coragem, não quer fazer ondas ou gerar tempestades com medo que os ventos e a água lhe possam saltar para o seu próprio tacho que não querem enegrecer, muito menos perder!…
Cristo teve um comportamento desconcertante perante a triste mentalidade da época em relação à mulher. Ele fez-se promotor da verdadeira dignidade da mulher e da vocação correspondente a essa dignidade. Os próprios discípulos manifestaram estranheza ao ver como Jesus se colocava ao lado da mulher e a defendia, qualquer que fosse a sua condição, idade ou circunstância. No debate sobre o matrimónio em que ardilosamente lhe colocaram a questão do direito do homem «repudiar a sua mulher por qualquer motivo», Jesus denuncia e insurge-se contra a dureza do coração farisaico e defende o verdadeiro lugar da mulher no matrimónio e a sua dignidade como pessoa. Na história do cristianismo, mesmo que nela se possam encontrar erros ou desvios – a Igreja, se é divina, também é humana! -, na história do cristianismo, a mulher sempre teve um estatuto especial de dignidade. O Magistério da Igreja tem sido pródigo em documentos e referências ao assunto e a mulher encontra-se no coração da história da salvação. Mas, de facto, não tem sido fácil essa luta pelos direitos da mulher. Só desde que ela deixou de ser apenas destinatária dessa luta e assumiu nela verdadeiro protagonismo é que se têm dado passos de aplaudir e podemos hoje celebrar o Dia Internacional da Mulher. Desde as suas reivindicações como operárias numa fábrica em Nova Iorque, em 1857, a história desta luta das mulheres tem-se vindo a construir e a fazer valer. 
Aconselho a ler um elogio à mulher, no Livro dos Provérbios, um livro da Bíblia cujo conteúdo é atribuído ao rei Salomão que viveu, aproximadamente, há 3.000 anos. A compilação do Livro é imputado a um autor do século VI-V antes de Cristo. É um poema ou hino em louvor da mulher, sempre dedicada, laboriosa, empreendedora, hábil e atenta aos outros, cujos filhos e marido se erguem para a felicitar e elogiar (Provérbios 31, 10-31).

Antonino Dias 
Portalegre-Castelo Branco, 06-03-2020

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