O Dia Mundial das Comunicações Sociais nasceu do decreto ‘Inter Mirifica’ do Concílio Vaticano II, em 1963. A primeira celebração mundial teve lugar há 59 anos, em 7 de maio de 1967, Domingo da Ascensão, no Pontificado de São Paulo VI. Tem como objetivo refletir sobre a importância dos meios de comunicação social, o seu impacto na sociedade, o seu papel na promoção da paz e da justiça, não esquecendo a sua importância na evangelização e as consequências negativas que poderão advir do seu mau uso. Este ano, este Dia Mundial ainda é vivido sob a Mensagem do Papa Francisco, publicada em 24 de janeiro. Aí, Francisco pede a jornalistas e comunicadores que sejam corajosos “em colocar no centro da comunicação a responsabilidade pessoal e coletiva para com o próximo”, pois vivemos um tempo “marcado pela desinformação e pela polarização, no qual alguns centros de poder controlam uma grande massa de dados e de informações sem precedentes”. Outro fenómeno preocupante, diz o Papa, é a “dispersão programada da atenção” através de sistemas digitais que, ao traçarem o nosso perfil de acordo com as lógicas do mercado, alteram a nossa perceção da realidade”. É uma espécie de “atomização dos interesses, o que acaba por minar os fundamentos do nosso ser comunidade, a capacidade de trabalhar em conjunto por um bem comum, de nos ouvirmos uns aos outros, de compreendermos as razões do outro”.

Não é saudável nem útil que alguém, para se afirmar a si próprio como jornalista ou comunicador, sinta necessidade de “identificar inimigos para atacar verbalmente e denegrir a sua pessoa e dignidade”, deixando de parte a “necessidade de uma comunicação atenta, amável, refletida, capaz de indicar caminhos de diálogo", de encontrar as centelhas de bem que permitam ter esperança e tecer a comunhão, caminhando juntos, ajudando “o mundo a ser um pouco menos surdo ao grito dos últimos, um pouco menos indiferente, um pouco menos fechado”.

Francisco denuncia que, “com demasiada frequência, a comunicação não gera esperança, mas sim medo e desespero, preconceitos e rancores, fanatismo e até ódio. Muitas vezes, simplifica a realidade para suscitar reações instintivas; usa a palavra como uma espada; recorre mesmo a informações falsas ou habilmente distorcidas para enviar mensagens destinadas a exaltar os ânimos, a provocar e a ferir". Por isso, há necessidade de “desarmar a comunicação, de a purificar da agressividade. Nunca dá bom resultado reduzir a realidade a slogans. Desde os talk shows televisivos até às guerras verbais nas redes sociais, todos constatamos o risco de prevalecer o paradigma da competição, da contraposição, da vontade de dominar e possuir, da manipulação da opinião pública”.

Com ternura e esperança, ao seu estilo, Francisco deixa um forte apelo aos agentes da comunicação social: “Sede mansos e nunca esqueçais o rosto do outro; falai ao coração das mulheres e dos homens ao serviço de quem desempenhais o vosso trabalho. Não permitais que as reações instintivas guiem a vossa comunicação. Semeai sempre esperança, mesmo quando é difícil, quando custa, quando parece não dar frutos. Procurai praticar uma comunicação que saiba curar as feridas da nossa humanidade. Dai espaço à confiança do coração que, como uma flor frágil mas resistente, não sucumbe no meio das intempéries da vida, mas brota e cresce nos lugares mais inesperados: na esperança das mães que rezam todos os dias para rever os seus filhos regressar das trincheiras de um conflito; na esperança dos pais que emigram, entre inúmeros riscos e peripécias, à procura de um futuro melhor; na esperança das crianças que, mesmo no meio dos escombros das guerras e nas ruas pobres das favelas, conseguem brincar, sorrir e acreditar na vida. Sede testemunhas e promotores de uma comunicação não hostil, que difunda uma cultura do cuidado, construa pontes e atravesse os muros visíveis e invisíveis do nosso tempo. Contai histórias imbuídas de esperança, tomando a peito o nosso destino comum e escrevendo juntos a história do nosso futuro”.

A esperança cristã tem como rosto o rosto do Senhor ressuscitado, refere a Mensagem. Por isso, cada comunicador deve dar razões da sua esperança, com mansidão e respeito, reacendendo a esperança, fomentando atitudes de abertura e amizade, gerando empenho, empatia e interesse pelos outros, de forma que, quem o ouve, lê ou vê, se torne também participante, esteja próximo, possa reerguer-se, encontrar o melhor de si e tornar-se verdadeiro peregrino da esperança.

 

Antonino Dias

Portalegre-Castelo Branco, 30-05-2025.

 

 

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