Esta é a primeira carta que vos escrevo, como mensagem de Advento e Natal, neste feliz momento em que vivemos ainda o Ano de Jubileu proclamado pelo Papa Francisco. Ao longo deste ano jubilar, que agora se aproxima da sua conclusão, foi-nos dado viver um tempo de renovação da esperança, na consciência de que somos caminhantes, peregrinos que sabem que têm uma meta, assumindo o chamamento de Jesus Cristo, que mobiliza, une a si e à sua missão e nos mostra continuamente o quanto nos ama e perdoa, por mil sinais oferecidos pela força do Seu Espírito Santo e através de tantos irmãos e irmãs que se fazem próximos.

O Jubileu é, tanto na sua génese bíblica como na Tradição viva da Igreja, um precioso tempo de Graça para reavivar a possibilidade de recomeçar, apesar de tantas vezes nos sentirmos cansados ou desalentados diante dos tropeços e pesos do caminho. Viver o Jubileu é ainda celebrar a gratidão pela possibilidade do perdão, pelo dom infinito da misericórdia incondicional de Deus que, todos os dias, nos indulgencia e convida a retomar o caminho. Juntos e fazendo memória da Fonte de Vida de onde viemos.
Encerrar o Ano Jubilar não é, de todo, encerrar esta alegria num Deus de misericórdia que nos convida sempre a ser “peregrinos da esperança”. Se este tempo de Jubileu teve tanto sentido é precisamente porque nos relança na alegria de sermos peregrinos portadores de esperança e sentido num mundo tão cansado de injustiça, violência e desequilíbrios de toda a espécie.
É verdade que, nos “pequenos mundos” que são as nossas vidas pessoais, familiares e comunitárias, também não falta esta marca do sofrimento, dos desequilíbrios e pecados que nos magoam e dificultam a agilidade do caminhar. Por isso, continua a fazer tanto sentido viver o tempo do Advento como oportunidade sempre nova de reavivar as razões da nossa esperança, partilhando-as com os outros. Com os olhos fixos em Maria, a dócil discípula. Com o coração a deixar-se inspirar pelo jovem José, sempre tão despojado de si, para que o Evangelho nascesse.
Por isso, é tão urgente que, ao menos nós, cristãos, celebremos o Natal de um modo verdadeiramente cristão, centrado no essencial deste Deus-Misericórdia que se sujeita à nossa condição humana para nos encher da Sua Paz e da alegria de nos tornarmos, por Ele e com Ele, Filhos de um mesmo Deus, irmãos e irmãs de uma só família. A mesa da fraternidade universal, de que os cristãos são testemunhas e arautos, funda-se nesta certeza de fé de sermos todos irmãos e irmãs, porque todos enraizados em Cristo e por Ele unidos ao mesmo Pai.
Temos razões para, com gratidão, reconhecer no mundo em que vivemos muitas sementes do Verbo de Deus, muita gente de boa vontade que se esforça por construir a paz, ser sinal de unidade, defender a integridade da casa comum, pela preservação do ambiente e da justiça para todos. Mas seria ingénuo fechar os olhos aos horrores da guerra de povos que agridem outros povos, ou da violência de pessoas que ferem pessoas, muitas vezes no seio desse santuário de vida que deveria ser sempre a família. Crescem os discursos de ódio, também nas nossas sociedades europeias, que propõem soluções demasiado fáceis para problemas demasiado complexos, respostas simplórias e enganosas e, por isso mesmo, perigosas para o bem-estar e para a justiça social.
Quando, uma vez mais, neste Natal proclamarmos, com os anjos de Belém, “Glória a Deus nas Alturas e Paz na terra aos homens”, lembremo-nos que tal pregão não pode ser decorativo, mas, sendo dádiva de Deus, terá de ser igualmente compromisso nosso. Se assim não fosse, o Natal poderia ser um tempo cheio de decorações e retórica cansada, mas não seria ainda o Natal de Jesus, que transforma as nossas vidas e nos torna gente de paz, comprometida com a reconciliação que valoriza todos, integra os mais ameaçados e frágeis e se implica na defesa de uma justiça fundada na verdade e no reconhecimento da bondade e da beleza de todos. 
Ao encerrarmos o Ano Jubilar, também na nossa diocese, não esqueçamos que a Graça que este tempo nos trouxe, como tudo aquilo que vem de Deus, encerra em si uma imensa responsabilidade, que só podemos assumir porque nos sabemos alicerçados na fidelidade do Espírito Santo. Somos responsáveis de prosseguir no mundo essa sinalização da Paz e da Justiça, da fé num Deus maior, da afirmação da presença de Jesus Cristo Ressuscitado, num mundo tão necessitado de regressar a Deus e ao sentido da Verdade e da Bondade. Somos portadores dessa alegria; que jamais o medo ou os respeitos humanos nos impeçam de viver a Missão!

É assim que vos desejo um Santo e luminoso Natal. E um ano de 2026 cheio de fecundidade evangélica e de frutos de paz e justiça. 

+ Pedro Fernandes, CSSp
    (Bispo de Portalegre-Castelo Branco)

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