Eucaristia com Vésperas Integradas
A catedral da cidade de Portalegre, edificada a escassos metros da igreja de Santa Maria do Castelo (matriz medieval da urbe), é uma consequência artística e arquitectónica da criação dessa diocese em 1549, por bula do papa Paulo III, a pedido do rei D. João III. As obras iniciaram-se em 1556, durante o governo do seu primeiro bispo, o espanhol D. Julián d’ Alva, capelão da rainha D. Catarina de Áustria. O edifício só foi concluído no último quartel do século XVI, sendo prelado o carmelita D. Frei Amador Arrais, célebre autor dos “Diálogos”. Foi este bispo que mais contribuiu para a ornamentação do templo, com a encomenda de vários retábulos maneiristas. Em conjunto com outros, já de início do século XVII, permanecem in situ e transformaram esta sé num verdadeiro museu vivo de pintura e escultura desse período. Já no século XVIII, no primeiro quartel, foi acrescentado um claustro ao edifício. O monumento recebeu ainda algumas transformações barrocas e rococós, já na última década desse século.
Trata-se de um dos mais importantes edifícios catedralícios do nosso país. A sua traça tem sido atribuída a Miguel de Arruda, apresentando uma solução de compromisso e transição entre o manuelino e a linguagem despojada da arquitectura chã. A direcção das obras ficou a cargo do mestre João Vaz.
A fachada monumental da sé é caracterizada por duas altas torres que, no século XVIII, altearam as originais. Dessa época são, também, a restante fachada (com alguns janelões e sacadas a introduzirem grande luminosidade no templo) e o pórtico com colunas monolíticas de mármore. No interior temos uma ampla igreja-salão, com elementos estruturais, nomeadamente nervuras, a lembrarem a arte do tempo de D. Manuel I e uma planta que recorda os tratados de arquitectura clássica. A austeridade é quebrada pela decoração dos tectos, com motivos maneiristas, e pela profusão de talha e pintura religiosa contra-reformista.
Entre os retábulos, destaca-se o principal, concebido pelo escultor portalegrense Gaspar Coelho, que colaborou intensamente nos programas artísticos idealizados pelo bispo D. Amador Arrais, nomeadamente no risco e na execução do retábulo principal da igreja do colégio do Carmo, em Coimbra, onde se encontra sepultado o eclesiástico. Além da máquina de escultura, nele se podem admirar pinturas de Fernão Gomes e de Simão Rodrigues.
Para além desta obra-prima, existem mais retábulos da mesma época ou ligeiramente posteriores, que ocupam até às abóbadas as capelas laterais e colaterais intercomunicantes. Entre eles, destaca-se o de Nossa Senhora do Carmo, onde existem pinturas atribuídas ao mestre espanhol Luis de Morales, el Divino. Da oficina deste pintor estremenho, há ainda um tríptico na capela do claustro dedicado à Paixão de Cristo.
Ruy Ventura, in http://bensculturais.com/app365/imagem.php?i=06-05-2013.jpg