“Vinde e descansai um pouco”, Mc 6,31
Muitos de nós ainda se recordam de em férias regressar aos lugares de origem e, se possível, ficava-se algumas semanas, duas ou três, em casa dos avós ou dos tios. As férias, tal como eram entendidas, eram coisa de ricos. Depois veio o “boom” económico, que não fez todos ricos, mas colocou nos bolsos o suficiente para uma semana de veraneio. E ainda mais tarde viria o tempo das férias adjetivadas, por assim dizer: ou seja, as inteligentes, “off-road”1, alternativas, verdes, de voluntariado, peregrinações e tudo o mais que se queira acrescentar.
Apesar de bem diferentes, as palavras férias em português, e vacation, em inglês (vacaciones, em espanhol, vacanze em italiano e vacances, em francês) têm origem no latim. As palavras de que derivam, entretanto, são diferentes. Enquanto férias vem de feriae (dias em que os romanos não trabalhavam por razões religiosas), vacation vem de vacationem (lazer ou folga do trabalho), que por sua vez deriva de vacare (vazio, livre). Este conceito entrou no grande elenco da Doutrina Social da Igreja, redesenhando efetivamente a própria noção de férias.
Não uma coisa de ricos, nem um tempo de ausência – como indica a etimologia da palavra vacare –, mas como explicou o Papa Francisco a 6 de agosto de 2017, algo de importante para todos, porque todos precisam «de um tempo útil para retemperar as forças do corpo e do espírito, aprofundando o caminho espiritual».
"Desejo que todos possam desfrutar de umas férias para renovar o corpo e o espírito". Assim falou o Papa Leão XIV, antes de partir para a pequena cidade italiana de Castel Gandolfo, na região de Lázio, a pouco mais de 20 quilómetros de Roma, para duas semanas de descanso, cumprindo uma tradição com quatro séculos.
São João Paulo II, a 21 de julho de 1996, fixou para sempre o conceito de férias, sublinhando como «tomados pelo ritmo cada vez mais veloz da vida quotidiana, temos todos necessidade de vez em quando de fazer uma pausa e de nos repousarmos, concedendo-nos um pouco mais de tempo para refletir e orar». O Papa Bento XVI, no Angelus de 17 de agosto de 2005, chamou a atenção para a necessidade de nos regenerarmos em corpo e espirito e afirmou que as férias são dias com espaço para o silêncio, a reflexão e o contato tranquilo com a natureza, onde podemos dedicar mais tempo à oração, à leitura e à meditação sobre os significados profundos da vida, no ambiente sereno da família e dos entes queridos.
Também o Papa Francisco, em 6 de agosto de 2017, afirmou que as férias servem para aprofundar o caminho espiritual, sendo este período um tempo de descanso e desapego das ocupações diárias, regenerando assim as forças do corpo, da mente e aprofundando o caminho espiritual. Em cenários políticos, a erradicação da pobreza deve ser assumida como “a” questão central da qual depende a construção de uma sociedade mais humana, mais coesa e mais próspera.Só um consenso sobre o bem comum pode provocar uma transformação dos paradigmas sociais, económicos e políticos. A Comissão Nacional Justiça e Paz, em conjunto com várias comissões diocesanas apelam, numa fase em que um novo governo inicia funções, para que o combate à pobreza seja um objetivo nacional nos próximos anos e consideram que as metas e os objetivos de combate à pobreza devem ser um desígnio nacional prioritário que deve mobilizar, com empenho, firmeza e determinação, o Estado como um todo, a sociedade civil, as igrejas e as comunidades religiosas. O respeito pela dignidade humana só estará garantido quando cada pessoa for capaz de honrar a sua própria humanidade, ou seja, só estará garantida quando cada um de nós for capaz de gerir a sua vida sem estar limitado pela necessidade ou pela extrema vulnerabilidade.
Segundo os dados da Pordata, quase um terço dos trabalhadores, em Portugal não conseguem passar uma semana de férias, por ano fora de casa. A desigualdade empurra para a “pobreza de férias”: descansar com dignidade. Este não é um problema só nosso. Na Europa, mais de 41 milhões de trabalhadores estão na mesma situação, revela um estudo do Instituto Sindical Europeu.
Que o gozo de férias seja desígnio nacional, de modo que cada um de nós tenha a oportunidade de usufruir de uma pausa no trabalho para recuperar as forças físicas, a oportunidade de viajar e comtemplar as belezas da natureza, um tempo para novas leituras e amizades, mas, também um espaço para cultivar, através da meditação e da oração, o nosso interior.
1Férias off-road envolvem a exploração de áreas remotas e paisagens naturais, geralmente fora dos caminhos convencionais, utilizando veículos ou equipamentos apropriados para superar obstáculos e desfrutar de experiências únicas.